Título: Hospedagem em embaixada ajuda a poupar diária
Autor: Diego Escosteguy e Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/10/2005, Nacional, p. A13

O abuso no pagamento de diárias e despesas de viagem de ministros e altos funcionários brasileiros não chega a ser algo novo na França, mas constitui uma velha prática que vem dos governos militares e continuou nos governos que se sucederam, acentuando-se nos três últimos anos. Ministros e altos funcionários do governo guardam suas diárias de US$ 350 e se hospedam nas residências dos embaixadores. Este é um artifício esperto para poupar diárias, quando os alto funcionários da burocracia estatal brasileira passam por capitais glamourosas, que oferecem noites, restaurantes e passeios tentadores. A tática existe desde os tempos do regime militar, quando podia ser desfrutada livremente, sem medo de denúncias na imprensa.

Depois da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a prática se acentuou. Nunca se viajou tanto - e aproveitar a hospitalidade dos embaixadores é o modo de fazer sobrar dinheiro para comer e beber do bom e do melhor nas noites inesquecíveis da Rive Droite ou, se os velhos dogmas ainda imperarem, da Rive Gauche.

Nas charmosas cidades do chamado "circuito Elizabeth Arden", as residências oficiais brasileiras se transformaram em verdadeiros hotéis-residências para altos funcionários. E não são poucas as (ótimas) opções disponíveis: em Paris, as residências dos embaixadores na França e na Unesco; em Roma, as dos embaixadores na Itália, no Vaticano e na FAO; em Londres, a do embaixador na Grã-Bretanha; em Washington, as dos embaixadores nos EUA e na OEA; e em Nova York, a do embaixador na ONU, do Escritório Comercial e do cônsul-geral.

ALTA ROTATIVIDADE

Nos últimos tempos a alternância de hóspedes nas residências oficiais brasileiras em Paris tem sido tão grande que as arrumadeiras da embaixada chegam a trocar a roupa de cama duas vezes por dia. E não são só ministros e altos funcionários do governo federal; alguns governadores e políticos de expressão no Congresso, inclusive da oposição, também embarcam na mordomia, cujo custo final vai para o Erário brasileiro.

As grandes embaixadas contam com mordomia especializada nas residências oficiais - carros com motoristas, segurança, serviço de copa e graduados cozinheiro para preparar as refeições. Recentemente o ministro Celso Amorim se queixou, no Senado, da falta de verbas do Itamaraty. Ele alegou que por vezes não tem recursos para pagar em dia os salários de seus funcionários locais no exterior, o que já gerou ameaças de greve, inclusive em Paris. Mas em suas queixas não explicitou por que o dinheiro anda faltando nos cofres diplomáticos.