Título: Morre Rosa Parks, a que não cedeu
Autor: Bree Fowler
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/10/2005, Internacional, p. A15

Há 50 anos, Rosa Parks tomou uma decisão simples que desencadeou uma revolução. Quando um homem branco exigiu que ela cedesse seu lugar num ônibus em Montgomery, Alabama, a costureira de 42 anos disse não. Rosa não imaginava que estava garantindo um lugar de honra na história americana. Seu pequeno ato de rebeldia galvanizou uma geração de ativistas, incluindo um jovem reverendo chamado Martin Luther King Jr., e lhe rendeu o título de "mãe do movimento pró-direitos civis".

Rosa morreu em casa na noite de segunda-feira, de causas naturais, com amigos íntimos a seu lado. Tinha 92 anos.

Monique Reynolds, de 37 anos e nascida em Montgomery, descreveu Rosa como uma inspiração que viveu para ver as mudanças trazidas pelo movimento dos direitos civis. "Martin Luther King não viu, Malcolm X não viu. Ela pôde ver e desfrutar", disse Monique.

Em 1955, as chamadas leis Jim Crow, em vigor desde a reconstrução pós-Guerra Civil, exigiam a separação das raças nos ônibus, restaurantes e locais públicos no sul dos EUA. A segregação racial legalmente sancionada excluía os negros de vários trabalhos e e impedia de morar em certos bairros no norte.

Rosa Parks, integrante ativa da Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor (NAACP, na sigla em inglês), viajava num ônibus urbano em 1.º de dezembro de 1955 quando um homem branco exigiu ocupar seu lugar. Ela se recusou, apesar das regras determinando que os negros cedessem o lugar aos brancos. Parks foi presa e multada em US$ 14.

O deputado John Conyers, em cujo escritório Parks trabalhou por mais de 20 anos, lembrou a líder pró-direitos civis como alguém que causou um impacto imensurável no mundo, mas nunca procurou a fama. "Todos queriam explicar Rosa Parks e ensinar sobre Rosa Parks, mas Rosa Parks não estava muito interessada nisso", disse Conyers. O prefeito de Detroit, Kwame Kilpatrick, disse: "Ela se levantou ao sentar-se."

Em 1992, Parks declarou que muitas vezes disseram que ela não sabia por que se recusara a levantar-se quando mandaram, que seus pés doíam. "Na verdade senti que tinha o direito de ser tratada como qualquer outro passageiro. Havíamos suportado aquele tipo de tratamento por muito tempo", disse.

A prisão de Rosa motivou um boicote de 381 dias ao sistema de transporte de ônibus. O líder era um então pouco conhecido ministro batista, o reverendo King, que mais tarde ganharia o Nobel da Paz por seu trabalho. O que era para ser um protesto de um dia durou mais de um ano.

O boicote quase quebrou o transporte público de Mongmery, que tinha dois terços de seus lucros provenientes dos negros. Em 13 de novembro de 1956, a Suprema Corte dos EUA declarou inconstitucional a segregação racial nos ônibus de Montgomery. O boicote terminou uma semana depois, mas os protestos se espalharam para outras cidades do sul dos EUA. Anos de tumulto estavam apenas começando.

Em 1955, no Estado do Alabama, os passageiros negros dos ônibus tinham de seguir certas regras:

Os primeiros 10 lugares eram reservados para os brancos

Mesmo se não houvesse brancos no ônibus, os negros tinham de se sentar no fundo, e se não houvesse lugar no fundo, ficar em pé

Se o setor dos brancos estivesse cheio, alguns motoristas mandavam os negros dar seus lugares no fundo para os passageiros brancos Alguns motoristas deixavam os negros entrar pela porta da frente só para pagar a passagem, mandando-os depois para a porta de trás para encontrar um lugar. Às vezes o ônibus partia entre o pagamento e a entrada do passageiro, deixando-o na rua.