Título: Acordo de Fraga causa polêmica
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2005, Metrópole, p. C9

Dois integrantes do Conselho de Ética da Câmara disseram ontem considerar inadequado o fato de a frente pelo "não" no referendo ter pedido diretamente a um único segmento da iniciativa privada - fábricas de armas e munição - o pagamento de dívidas da campanha. O presidente da frente, deputado Alberto Fraga (PFL-DF), admitiu ao Estado que, antes da campanha, fez acordo verbal com as empresas Taurus e CBC para bancarem débitos, caso as doações não cobrissem os custos. Para o deputado Chico Alencar (PT-RJ), é preciso verificar se Fraga "está misturando interesses públicos e privados", o que contraria o Código de Ética da Casa. Ele lembrou que o código veda o recebimento de "vantagem indevida", o que poderia ser aplicado no caso de fabricantes de armas cobrirem gastos. "Fazer uma cobrança direta é equivocado. Mas o auxílio para pagamento da dívida feito por qualquer entidade é compreensível", disse Sampaio.

"Caiu a máscara", afirmou o deputado Raul Jungmann (PPS-PE) , da frente do "sim". "Fica claro que a frente não estava em defesa da vida. Muito menos de um direito. Defendia só o lucro de fabricantes de armas."

Fraga disse que não entende "o porquê desse negócio todo". "Eu declarei que, se não tivesse como pagar as dívidas, procuraria as empresas. Reuni a frente e perguntei o que fazer. Ficou decidido não aceitar dinheiro das empresas bélicas. Eu acatei", declarou. Segundo ele, a decisão foi tomada para "não dar o gostinho" para a imprensa.

Perguntado se não se arrependia de não ter contado à opinião pública que tinha o crédito garantido, respondeu: "Não tenho arrependimento de ter conversado com quem quer que seja. Não pratiquei nenhum delito." E emendou: "A imprensa não precisava saber antes do final." Segundo o deputado, seu compromisso é de prestar contas de maneira transparente e a frente está "totalmente dentro da legalidade".

O deputado Luiz Antônio Fleury Filho (PTB-SP) disse que respeita a avaliação dos colegas parlamentares, mas discorda. "Entendo que haveria quebra de decoro caso houvesse caixa 2 ou uma votação dentro da Câmara envolvendo o assunto. E não se trata de nenhuma dessas hipóteses", afirmou.

Segundo ele, as doações serão objeto de prestação de contas do Tribunal Superior Eleitoral e estarão regulares. "Por coincidência, esses dois deputados votaram 'sim'. Isso é choro de perdedor. Ninguém fala de onde veio o dinheiro para a outra frente", alfinetou Fleury. De acordo com Fraga, "na hora de esmiuçar as contas, serão encontradas muito mais surpresas nas contas do sim."