Título: Desgaste do governo afetou a campanha, diz marqueteiro do 'sim'
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2005, Metrópole, p. C9

Quando se perde jogo, eleição, referendo, sobram lamentos e procuram-se culpados. Não foi diferente com os profissionais de comunicação, artistas e igrejas que endossaram a campanha pela proibição da venda de armas e munição no Brasil. O vice-presidente da agência de publicidade Giovanni, FCB, Adilson Xavier, que criou o logotipo da campanha, o jingle e arregimentou produtores e artistas para apoiar a causa, está frustrado com o resultado. "Tínhamos os melhores depoimentos, um elenco de credibilidade, as melhores produtoras de audiovisual, e tudo sem custo. Só que a campanha do 'não' foi mais inteligente ao catalisar o profundo momento de desconfiança da sociedade em relação ao poder instituído, à segurança pública e ao desejo de protestar, de dizer não ao governo achando que o 'sim' seria governo, o que não é verdade", disse Xavier. "A intenção sempre foi a de reduzir o número de armas em circulação e pôr uma trava na venda de munição, que estimula a violência."

O consolo do publicitário é que o referendo "pôs a questão da segurança pública na ordem do dia e esse será assunto obrigatórios nas eleições do próximo ano".

Para Xavier, a turma que "votou 'não' o fez por protesto", sem levar em conta a pergunta do referendo. Ele também lamenta o problema lingüístico: quem queria a proibição de armas tinha de assinalar "sim" e quem queria a permissão, "não".

Para Xavier, o momento em que ocorreu o referendo não poderia ser pior. "Muitos acharam que se tratava de uma cortina de fumaça para a crise, mas o referendo foi fruto da indefinição do Congresso quanto à questão." O publicitário não acha que a campanha do "sim" tenha falhado, mas concorda que "pareceu ingênua, por vender a esperança, numa conjuntura que conspirou contra, de impunidade e desconfiança em relação ao poder constituído".