Título: UE: frango e ovos, só bem cozidos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2005, Vida&, p. A18

CONTRAPROVA: Três casos suspeitos de gripe aviária foram registrados na ilha francesa de Reunion (no Oceano Índico), informou ontem o governo da França, que aguarda os resultados de testes a que eles foram submetidos para fornecer mais detalhes. Os três pacientes estiveram na Tailândia com outras 17 pessoas, entre os dias 12 e 19 de outubro, visitaram um zoológico de aves e entraram em contato com pássaros, segundo o ministro da Saúde, Xavier Bertrand. O primeiro exame realizado por um dos pacientes em Reunion deu positivo. Mais amostras - agora dos três - foram enviadas ao Instituto Pasteur, de Paris. Os casos, por enquanto, estão sendo considerados apenas suspeitos pelas autoridades sanitárias.

O ministro disse que os novos resultados do primeiro paciente testado serão divulgados hoje. Ele está internado desde sábado em um hospital da ilha.

Na segunda-feira, o paciente de 43 anos, cujo nome não foi divulgado, foi submetido a dois exames para a detecção do vírus H5N1. O resultado foi "positivo" na amostra retirada da garganta e "duvidoso" na do nariz.

Xavier Bertrand disse que os pacientes estão sendo tratados com antivirais.

O governo da França reforçou suas medidas contra a gripe aviária nas granjas locais. Entre outras coisas, ordenou o isolamento de aves nos 21 departamentos da França continental e de Córsega mais expostos às aves migratórias. EFE

Embora não haja prova de que o consumo de frango ou de ovos crus cause a gripe aviária em humanos, a Autoridade Européia para a Segurança Alimentar (EFSA), com sede em Parma, Itália, recomendou ontem que esses alimentos devem ser bem cozidos. Na Croácia, confirmou-se que o vírus que matou aves é o temido H5N1. E um novo foco surgiu na China, o terceiro nesta semana.

Em um comunicado, o órgão europeu alertou: "É preciso cozinhar completamente a carne e os ovos para evitar qualquer risco potencial, mesmo sendo pouco provável que o vírus da gripe aviária H5N1 (o único dos 15 tipos capaz de matar pessoas) possa ser transmitido aos humanos através da carne de frango crua e dos ovos crus. Cozinhar devidamente a comida eliminaria qualquer risco potencial." Há pratos típicos em países como Tailândia e Laos preparados com carne de frango crua ou apenas com uma leve fervura, por exemplo.

Por pressão de avicultores, frigoríficos e supermercados, a EFSA mudou o alerta, deixando claro não ter provas de que o consumo cause a doença, embora não exclua a possibilidade. "Teoricamente, a contaminação poderia ser possível", disse diretor científico da entidade, Herman Koeter.

A União Nacional Avícola da Itália pressionou o primeiro-ministro Silvio Berlusconi, pedindo a demissão de Koeter por suas declarações. Em Roma, representantes do Forza Itália, partido de Berlusconi, protestaram, montando barraquinhas com cozinheiros assando frangos. A cadeia que envolve produtos avícolas na Europa é estimada em 15 bilhões e enfrenta queda nas vendas. Na Itália, a redução é de 60%.

A Comissão Européia (CE), órgão executivo da União Européia, tentou acalmar os ânimos, reafirmando depois que o consumo é seguro, "se forem tomadas as precauções aconselhadas desde tempos imemoriais". O porta-voz de Saúde da CE, Philip Tod, explicou que não há perigo em comer carne e ovos crus e que a gripe aviária não foi detectada na produção dos alimentos avícolas que chegam aos mercados da UE.

CROÁCIA E CHINA

A Comissão Européia também confirmou ontem que o vírus que matou aves na Croácia é do tipo letal H5N1. O país identificou dois focos, um na sexta-feira e outro nesta semana. Dois cisnes estavam infectados, assim como quase dez animais encontrados mortos num tanque de peixes. Mais de 10 mil aves domésticas foram sacrificadas perto da fazenda atingida. As instalações passaram por desinfecção e nove aldeias estão em quarentena.

Um novo foco da doença foi detectado na China, no povoado de Wantang, na província central de Hunan. Morreram 545 frangos e patos, segundo o Ministério da Agricultura. Para evitar a propagação, o governo sacrificou 2.487 aves. É o terceiro foco detectado no país em uma semana.

Hoje, a revista científica Nature publica reportagem na qual pesquisadores afirmam temer uma epidemia na África, onde a doença chegaria por aves migratórias. Comunidades africanas têm contato próximo com os animais, como na Ásia, porém estão isoladas, sem estrutura básica de saúde e saneamento e com altos índices de analfabetismo, o que dificulta a conscientização do povo.

Autoridades da Inglaterra afirmaram que há a possibilidade de outros papagaios em quarentena no país terem o vírus H5N1. Na semana passada, uma ave morreu.