Título: Acareação teve tensão, acusações mútuas e parlamentares perplexos
Autor: João Domingos e Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2005, Nacional, p. A4

A acareação entre Gilberto Carvalho e os irmãos João Francisco e Bruno Daniel foi pontuada por momentos de muita tensão, acusações mútuas e incredulidade dos parlamentares pela distância que separava as versões dos dois lados. João Francisco chegou a dizer que Carvalho promovia uma "palhaçada" quando insinuou que ele, irmão de Celso, era pessoa distante do prefeito morto. - Eu sabia que o senhor ia negar. O senhor é um homem de governo. Vamos acabar com essa palhaçada, disse João Francisco.

- Não se trata de nenhuma palhaçada. A CPI é uma instituição de respeito e não de palhaçadas, respondeu Gilberto Carvalho.

- A CPI não é palhaçada. Palhaçada é o que você está falando, insistiu João Francisco.

- Quero repetir uma vez mais: não levei dinheiro para José Dirceu. Não disse o que vocês dizem que eu disse, nem disse que você não amava seu irmão.

Antes, João Francisco e Bruno haviam contado que Carvalho os procurou no dia da missa de 7.º dia do prefeito, em 26 de janeiro de 2002, para revelar o esquema de arrecadação de recursos para o PT na prefeitura de Santo André. Segundo os irmãos, Carvalho disse que vivia preocupado por ser o responsável pelo transporte do dinheiro, porque uma vez levara em seu Corsa preto R$ 1,2 milhão para o José Dirceu.

- Trata-se de uma mentira. Não levei dinheiro ao José Dirceu. Fui à casa do João Francisco em respeito à família de Celso Daniel. Eu me coloquei à disposição da família para ajudar em tudo o que fosse preciso. Em nenhum momento falei em transporte de dinheiro. Eu não levei dinheiro ao deputado José Dirceu, insistiu Carvalho.

- Ele mentiu. Eu reafirmo. A conversa ocorreu e não foi no sentido de ele se oferecer para ajudar a família. Ele esteve lá em casa no dia 26 de janeiro e relatou o que meu irmão e eu dissemos. Temos testemunha, disse Francisco. E insistiu:

- Como você pode negar, Gilberto? Você adorou o bolo de aipim. Repetiu o bolo. Meu irmão foi barbaramente torturado, apesar de alguns colegas petistas terem negado.

Carvalho chamou João Francisco de leviano e disse que ele tem "uma mente fértil e imaginativa". Depois acusou que ele fizera lobby para a empresa de transportes Guarará. João Francisco respondeu que fez dois pedidos em favor da empresa, que fora vítima de achaques.

João Francisco acusou Carvalho de comandar um processo de destruição de provas na apuração dos crimes de Santo André. Carvalho voltou a acusá-lo de leviandade. Depois, Carvalho afirmou que os irmãos estavam sendo usados politicamente pela oposição.

"Que interesses há por trás da minha fala?", indagou Bruno. "Interesses políticos", replicou Carvalho. "Absurdo", disse Bruno. "Não sejamos ingênuos. As forças de oposição têm interesse em tirar proveito disso", afirmou Carvalho.