Título: Artistas apelam por Dirceu
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2005, Nacional, p. A7

A decisiva reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) que discutiu o futuro do deputado José Dirceu (PT-SP) foi movimentada, no início da tarde de ontem, pela visita de três artistas empenhados na defesa do ex-chefe da Casa Civil. O ator José de Abreu e os escritores Fernando Morais e Consuelo de Castro distribuíram na Câmara um manifesto intitulado "Em defesa da democracia e da Constituição - cassação do deputado José Dirceu é um ato de injustiça", com 90 assinaturas. O grupo começou pelo gabinete do presidente da Casa, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Depois, partiu para o plenário da CCJ. Os artistas foram recebidos com abraços e sorrisos até por algozes de Dirceu, como o relator no Conselho de Ética que pediu a cassação de seu mandato, Júlio Delgado (PSB-MG), e o relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR).

A voz destoante foi do deputado João Fontes (PDT-RN), expulso do PT em dezembro de 2003. "Vocês estão prestando um desserviço à opinião pública", disse Fontes. José de Abreu insistiu na defesa do amigo e ex-companheiro do movimento estudantil. "Estamos aqui para dizer que uma parte do povo acha que o deputado José Dirceu não deve ser cassado. Não fui eleito pelo povo, mas tenho público. E o equívoco também é um direito democrático", respondeu o ator que, apesar da velha amizade, contou ser eleitor do PSDB e não do PT.

Também Fernando Morais ressaltou que não é petista e lembrou o governo Orestes Quércia, em São Paulo, quando ocupou a Secretaria de Cultura. "Ele (Dirceu) foi meu adversário, batia na gente todos os dias." Mas fez uma veemente defesa do deputado e elogiou seu esforço para salvar o mandato. "Ele já esteve para morrer outras vezes, fisicamente. Agora, estão querendo a morte política. Ele já fez o diabo para não morrer e está na obrigação de fazer o diabo de novo para não morrer politicamente, não ser um cadáver civil boiando nos rios, pelo Brasil", disse Morais.

O principal argumento dos artistas é a falta de provas contra Dirceu. Eles encampam a versão do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares de que o caixa 2 foi montado para pagar dívidas eleitorais e não para pagar mensalão. Entre os signatários estão o arquiteto Oscar Niemeyer e o cartunista Ziraldo.