Título: Serra assume PSDB e diz que foco de escândalos é o PT
Autor: Silvia Amorim e Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2005, Nacional, p. A9

De volta à presidência do PSDB, o prefeito de São Paulo, José Serra, saiu ontem em defesa do senador Eduardo Azeredo (MG), que deixou o cargo por denúncias de caixa 2 envolvendo o empresário mineiro Marcos Valério de Souza. "Vamos ter uma coisa clara. O centro dos escândalos no Brasil está relacionado a desvio de dinheiro público de empresas estatais, corrupção e mensalão. O problema dele (Azeredo) está longe de estar no centro dos acontecimentos", afirmou. Embora menos grave que as denúncias que atingem o PT, disse Serra, o caso de Azeredo deve ser "examinado". O senador tucano anunciou seu afastamento da presidência nacional do PSDB anteontem, na tribuna do Senado. As irregularidades de que é acusado teriam ocorrido em 1998, na campanha à reeleição ao governo mineiro.

Serra confirmou que reassume a presidência até a escolha do sucessor, no dia 18. Segundo o prefeito, sua atuação na Executiva Nacional será à distância. "Eu reassumo, mas o trabalho será tocado lá em Brasília."

NOVA CPI

A saída de Azeredo foi uma atitude "correta e digna", comentou o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Segundo ele, apesar de o senador ter dito que não sabia nem autorizou as transações, agora poderá ter mais tranqüilidade para se defender das acusações. "Ele já se antecipou, já foi à CPI(dos Correios), já explicou e, se precisar, explica novamente", ponderou.

Quanto à iniciativa do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), de coletar assinaturas para pedir uma CPI exclusiva para investigar o caixa 2 nas campanhas, Alckmin disse não saber detalhes do procedimento, mas não colocou obstáculos. "Para mim, investigar nunca é demais. Eu não vejo problema, desde que se estabeleça qual foi o critério", frisou.

Questionado se a criação de mais uma CPI não acirraria ainda mais a disputa entre o PSDB e o PT no Congresso, Alckmin preferiu ressaltar a importância de esclarecer as suspeitas. "É importante investigar as denúncias que foram colocadas. Porque o que estimula a corrupção e desvio de conduta na atividade pública é a impunidade, o crime do colarinho branco. É importante investigar, apurar e punir os responsáveis."

Indagado se caixa 2 é algo corriqueiro nos partidos, incluindo o PSDB, o governador reagiu: "Não é comum."

TÁTICA

Em Minas, o governador Aécio Neves, também elogiou a decisão de Azeredo. Afirmou que agora o seu partido ficará "mais livre", "sem nenhum constrangimento" para investigar denúncias contra o PT, integrantes do governo e partidos aliados do Planalto. Para Aécio, o ex-presidente do PSDB foi vítima de uma estratégia política do PT "para tentar mostrar que todos são iguais".

Ao ser indagado sobre o desconhecimento alegado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao esquema de Marcos Valério, o governador mineiro disse que as investigações "devem feitas sem qualquer limite".

"Se chegará ao presidente, isso é função da CPI ou do Ministério Público ou da Polícia Federal investigar", destacou. "Mas que altos dirigentes do PT, com relação muito íntima com a máquina pública, beneficiaram alguns segmentos dentro do Parlamento, isso é fato já possível de ser constatado."