Título: Sindicalista assume autoria de cartazes contra Bornhausen
Autor: Luiz Alberto Weber
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2005, Nacional, p. A10

E havia mesmo um petista por detrás dos cartazes estampando o presidente do PFL, senador Jorge Bornahusen (SC), em uniforme nazista que surgiram em Brasília na última terça-feira. Filiado ao PT há 17 anos e diretor do Sindicato dos Profissionais em Processamento de Dados do Distrito Federal, Avel de Alencar assumiu ontem a autoria intelecutal e a encomenda de três mil cartazes com a fotomontagem. O sindicalista disse que pagou com um cheque pessoal no valor de R$ 1.060 os serviços de gráfica.

Integrante do Campo Majoritário do PT, Avel disse que tomou a iniciativa porque nem o governo nem o PT reagiram com energia quando foram atacados por Bornhausen. Alencar refere-se a declaração do presidente do PFL, em agosto último, que estava encantado com a crise do PT e do governo, porque com o escândalo o país estaria livre dessa raça pelos próximos 30 anos.

"A idéia foi minha. Fiquei indginado porque o governo e PT não reagiram às declarações do Bornhausen. Só quem falou nisso foi o sociólogo Emi Sader, mas o povão não ficou sabendo. Fiz isso para mostrar ao povo quem é o senador Bornhausen", disse.

"O Bornhausen pregou o extermínio da raça petista. Quem pregava o extermínio de raça eram os nazistas, por isso estou pensando em processá-lo", afirmou. "Fiquei indignado porque me senti ofendido com as declarações dele, que é um político que serviu muito a ditadura militar", Filiado a CUT e funcionário do Serpro (Serviço de Processamento de Dados do governo federal) desde 1983, Avel disse que o ministro do Trabalho e ex-presidente da CUT, Luiz Marinho, não teve envolvimento na operação. Há uma semana, Marinho disse que o PFL quer se tornar o Judiciário universal do país. "Eles estão perdidos. Bornhausen tem saudades do Hitler", afirmou Marinho, citando o ditador que a frente do governo da Alemanha foi responsável pelo genocídio de 6 milhões de pessoas durante a Segunda Guerra. "Mas eu e Marinho pensamos igual.

Somos petistas, somos de esquerda, somos socialistas", disse.

Na semana passada, Marinho acusou o senador pefelista de sentir saudades do ditador nazista alemão, Adolf Hitler. "O PFL quer se tornar o Judiciário universal do país. Eles estão perdidos. Bornhausen tem saudades do Hitler", afirmou Marinho, citando o ditador que a frente do governo da Alemanha foi responsável pelo genocídio de 6 milhões de pessoas durante a Segunda Guerra. O ataque do ministro do Trabalho faz referência a uma declaração de Bornhausen.

Avel encomendou ao irmão, Avelmar de Alencar, a missão de fazer o orçamento na gráfica. Ambos foram juntos buscar o material que foi colado em diferentes pontos da cidade na madrugada de segunda para terça. "Tenho 20 anos de militância e conheço nuita gente", disse Avel.

Perguntado se isso significava que outros sindicalista haviam participado da ação, Avel recuou e afirmou que pagou "diaristas". No sindicato, Alencar comanda a Escola de Informática do SINDPD-DF, que já treinou mais de 2 mil alunos.

O executor da idéia foi um amigo petista de Avel que trabalha na liderança do PT na Câmara Legislativa como responsável pelo site da seção do partido no DF. O rapaz, que é web designer, recebeu R$ 300 pela tarefa.

A operação-Bornhausen, como Avel a apelidou, sofreu um duplo veto antes de virar realidade. Em casa, sua mulher, Patrícia, filiada ao PPS de Goiás, disse que a ação municiaria a oposição contra o governo Lula.

A diretoria do sindicato temeu pela repercussão e com a possibilidade do sindicato virar alvo de investigação. "Nós não o apoiamos, foi uma coisa só dele", disse a presidente do sindicato, Cristiane Arnaud, que diz que destruiu mil dos três mil cartazes.

"Eu cresci combatendo a ditadura, não poderia afinar", afirmou Avel que tinha apenas 11 anos quando o jornalista Wladimir Herzog morreu vítima da ditadura militar, em 1975. "Mas meu pai era do Partido Comunista e foi cassado pelos militares em 1964 e isso me marcou", emenda ele, que é de Governador Valadares e lamenta que seu pai tenha deixado Brasília nessa época e voltado com a família para Minas.

"Fiquei mais revoltado com os ditadores e Bornhausen serviu a muitos deles".

O furor revolucionário de Avel não foi aplacado com a repercussão negativa de seu gesto nem com o indiciamento dele e seu irmão por crime de calúnia e difamação contra Bornahusen pela polícia civil do DF. Ele será ouvido pela polícia nos próximos dias. "Não tenho medo. É o preço de se enfretar os poderosos", diz.

Satisfeito com o suposto efeito estético de sua obra, Avel avisa: "Tenho uma nova idéia de cartaz", diz. "O Congresso seria um grande bordel com políticos do PFL e PSDB passando-se por virgens", diz ele para, em seguida, dizer que essa é mais uma idéia inspirada por outra pessoa. "Vi isso na charge do Jornal Nacional".