Título: Governo discute com FBI cooperação contra lavagem
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2005, Nacional, p. A10

O governo americano quer aproveitar o momento político brasileiro para estreitar com o País os mecanismos de cooperação em investigações de crimes financeiros transnacionais, lavagem de dinheiro e combate ao terrorismo. Em sua primeira visita oficial ao País, Roberto Mueller, diretor-geral do FBI (Federal Bureau of Investigation), a polícia federal norteamericana, começou ontem uma série de encontros com autoridades do governo. As reuniões precedem a visita que o presidente dos EUA, George Bush, fará ao Brasil na primeira semana de novembro.

O governo brasileiro tem grande expectativa no envio dos documentos, já em poder do FBI, sobre a movimentação de contas de brasileiros em instituições financeiras americanas entre 1996 e 2004. A papelada, que já está sendo fotocopiada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, deve ser remetida ao Brasil dentro de uma semana e será anexada ao inquérito do mensalão, que corre no Supremo Tribunal Federal (STF).

O Ministério da Justiça pediu ao governo americano que as informações sejam compartilhadas com as CPIs dos Correios e do Mensalão, do Congresso.

DUDA

A pedido do governo brasileiro, o FBI participa das investigações, nos Estados Unidos, da movimentação de recursos do caixa 2 do PT naquele país.

Uma ponta do inquérito do STF trata da remessa ilegal de recursos ilegais para movimentação no exterior, inclusive para pagamento de dívidas de campanha ao publicitário Duda Mendonça. De sua parte, o governo americano quer maior engajamento do Brasil na sua política de combate ao terrorismo e quer incrementar o acordo de cooperação jurídica e policial, em vigor há mais de vinte anos com o País.

Ontem, Mueller reuniu-se com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, em caráter reservado. Estiveram presentes a secretária nacional de Justiça, Cláudia Chagas, e o secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa.

Pela manhã, o diretor do FBI já havia se encontrado com o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda. Na audiência com Bastos, Mueller esteve acompanhado do embaixador americano, John Danilovich, que deixa o Brasil após a visita de Bush.

Laudos periciais do Instituto Nacional de Criminalística (INC) revelam que a rede brasileira da lavagem de dinheiro movimentou US$ 78 bilhões entre 1996 e 2003. A cifra resulta do total de transações rastreadas na quebra de sigilo de instituições com envolvimento comprovado no esquema de lavagem.

As investigações da CPI dos Correios constataram que o empresário Marcos Valério de Souza, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e Duda se serviram desse esquema para mandar recursos para fora do País e administrar uma parte significativa do caixa 2 do partido.

DOLEIROS

Os Estados Unidos, sobretudo as cidades de Miami e Nova York, têm sido utilizados nos últimos anos como a grande lavanderia do dinheiro de origem ilícita de brasileiros. O esquema envolve um conluio entre instituições financeiras dos dois países, empresas off shore abertas em paraísos fiscais, como Bahamas e Jersey e uma rede poderosa de doleiros. As principais instituições já mapeadas são o Banestado, o MTB Bank, a conta Beacon Hill, o Marchand Bank e o Banco Safra.

A investigação das transações escusas inclui ainda o Banco Rural Europa, o Florida Bank, o Israel Discount Bank e o BankBoston. O rastreamento externo, com a ajuda do FBI, começou pela offshore de Duda, a Dusseldorf, aberta para receber recursos do PT e pelas quatro principais contas que a alimentaram nos Estados Unidos.