Título: Exército vai vigiar trânsito de gado na linha da fronteira
Autor: Fabíola Salvador e Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2005, Economia & Negócios, p. B4

O Brasil vai pôr o Exército para patrulhar a linha de fronteira com o Paraguai a fim de fiscalizar o trânsito de gado e evitar o surgimento de novos casos de febre aftosa na região. O governo sul-mato-grossense tem insistido que os focos surgidos no Brasil originaram-se de animais paraguaios. O pedido foi feito pelo governo de Mato Grosso do Sul ao Comando Militar do Oeste. Serão fiscalizados cerca de 110 quilômetros da linha internacional, entre os municípios de Mundo Novo e Paranhos. É uma região em que se alternam grandes fazendas e pequenas criações em assentamentos. Muitos pecuaristas brasileiros têm também estâncias no lado paraguaio.

Até ontem, não havia definição do início do deslocamento das tropas. O governo paraguaio já mandou um contingente das Forças Armadas para a região. Desde segunda-feira, os militares dão apoio aos agentes do Serviço Nacional de Qualidade e Saúde Animal (Senacsa).

De acordo com o inspetor Ricardo Fernandez, do Senacsa, eles têm ordens para barrar a entrada de carnes de qualquer espécie, embutidos, produtos lácteos, sêmen de animais, soros e vacinas, aves e pequenos animais, como gatos e cachorros. Coordenam, ainda, o afastamento do gado paraguaio da linha paraguaia.

Cerca de mil animais foram removidos para a parte interna das propriedades. Também foram colocadas patrulhas marítimas no Rio Paraná para evitar o transporte por embarcações ao longo dos 70 km de águas comuns. Os postos de controle terrestres desinfetam os veículos que entram no Paraguai, vindos do Brasil. Ontem, os agentes paraguaios assavam e saboreavam churrasco de carne bovina em um dos postos, no acesso a Salto de Guairá. "É carne paraguaia, sem aftosa", diziam.

JÁ SABIAM

O intendente da capital da Província de Canindeyu, José Barbero Cantero, disse ontem que as autoridades sanitárias de Mato Grosso do Sul já sabiam da existência de aftosa em Japorã muito antes de ter sido anunciado o primeiro foco, no início deste mês. Segundo ele, técnicos da Agência Estadual de Defesa Animal e Vegetal (Iagro) entraram em território paraguaio na tentativa de encontrar focos e atribuir ao país vizinho a doença. Como não acharam, teriam guardado segredo da aftosa em Japorã.

Segundo ele, a ação violou um acordo feito em 2004, em que os dois países se comprometeram cooperar para evitar a aftosa. "Se um agente paraguaio fosse ao Brasil, pediria para ser acompanhado por um técnico brasileiro", criticou. Ele considerou normal o deslocamento de tropas brasileiras para a fronteira. "É bom também para nós, pois aumenta a segurança."

Desde o surgimento do foco no Brasil, delegações do Chile, do Uruguai e da Argentina, importadores de carne paraguaia, estiveram na região. "Todos ficaram satisfeitos com o que estamos fazendo", disse Cantero. Ele qualificou de "desespero" a tentativa de culpar o Paraguai pelos focos de aftosa no País.