Título: China faz alerta contra salvaguardas a têxteis
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2005, Economia & Negócios, p. B5

As salvaguardas do Brasil contra produtos têxteis chineses podem prejudicar as exportações brasileiras para aquele país. O alerta é de Qingliang Gu, chefe da delegação da China na reunião da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre o setor têxtil. Ontem o representante do governo chinês deixou claro que toda a relação comercial entre o Brasil e a China deve ser considerada quando se fala em barreiras. O setor privado brasileiro, que insiste nas barreiras de importação contra os produtos chineses, não gostou nada disso. "Não vamos aceitar que o setor têxtil nacional seja sacrificado em nome de outros interesses e negócios do Brasil com a China", disse Antonio Cesar Berenguer Gomes, conselheiro da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Segundo ele, os chineses dependem de alimentos e minérios do Brasil e, portanto, a ameaça não poderia ser levada a sério pelo governo.

A presidente do Sindicato das Costureiras de São Paulo e Osasco, Eunice Cabral, teme que o setor têxtil seja usado em barganhas com a China. "Acho que somos a bola da vez", afirmou a sindicalista, que representa os trabalhadores brasileiros na OIT.

TODOS GANHAM

Para o representante chinês, porém, as salvaguardas brasileiras não solucionariam a questão. "Seria um erro parar o comércio. Pela teoria econômica, todos ganham com o comércio", afirmou Gu. Ele reconhece que a China também precisa avaliar seu papel e não atuar de forma agressiva.

"Precisamos de um acordo com o Brasil. Mas a solução precisa ser ampla e deve ser baseada na riqueza dos países. Não podemos ver apenas um setor. Se houver salvaguarda, isso pode influenciar outros setores e bens." Para Berenguer Gomes, as exportações chinesas para o Brasil cresceram até 71% neste ano.

A OIT iniciou nesta semana a primeira reunião entre governos, empresários e trabalhadores para debater o setor têxtil. Em janeiro, as barreiras aos produtos dos países em desenvolvimento foram eliminadas, após 40 anos de proteção. O resultado está sendo uma revolução nos fluxos do setor, que movimenta US$ 350 bilhões por ano e emprega 40 milhões de pessoas, a maioria mulheres.

O tom das queixas, tanto de empresários como trabalhadores, é um só: os demais países não podem competir com a China enquanto Pequim continuar aplicando regras trabalhistas desleais.