Título: Desemprego sobr para 9,6 e renda não muda
Autor: Jacqueline Farid e Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2005, Economia & Negócios, p. B8

O mercado de trabalho em setembro foi marcado pelo aumento do desemprego e estagnação da renda em seis das principais regiões metropolitanas do País. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego subiu para 9,6% no mês, ante 9,4% em agosto. A pequena elevação, após três meses de taxa inalterada, foi provocada pelo crescimento da procura por vagas, com aumento de 3,6%, de um mês para o outro, no número de desocupados. O aumento da ocupação (0,9%) no período não foi suficiente para absorver o contingente de desempregados. No bolso dos que estavam ocupados, o rendimento médio real ficou estável após três meses de expansão ante o mês anterior e cresceu 2% em relação a setembro de 2004. Para Cimar Azeredo Pereira, gerente da Pesquisa, os juros elevados e o cenário político estão causando incertezas que inibem os investidores na abertura de mais postos de trabalho. Guilherme Maia, da Tendências Consultoria, avalia que "o mês de setembro conjugou um ritmo fraco de criação de vagas com aumento acentuado na desocupação".

Para Pereira, apesar da "estabilidade" na taxa, os dados do mercado de trabalho de setembro são positivos. O argumento é que a ocupação voltou a crescer após três meses de estagnação e o aumento dos desocupados não foi resultado de demissões, mas de maior procura daqueles que estavam fora do mercado por uma vaga.

Ele avalia que, a partir do fim do terceiro trimestre, as pessoas começam a buscar as vagas temporárias que são criadas no fim do ano no comércio ou turismo ou tentam aproveitar o aquecimento das encomendas na indústria. Além disso, a lentidão no crescimento da ocupação nos últimos meses acabou aumentando o estoque de pessoas que esperavam um movimento positivo na criação de vagas, o que ocorreu em setembro, levando mais pessoas à procura de emprego.

O especialista em mercado de trabalho do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo de Ávila, também acha que houve alguma melhora no mercado de trabalho, por causa do aumento da ocupação. Ele acredita, assim como Pereira, que a taxa de desemprego deverá recuar no quarto trimestre, como acontece nesta época do ano.

RENDA

O mercado de trabalho nas seis regiões chegou a setembro com 2,14 milhões de desocupados. O número de ocupados totalizava 20,07 milhões e o salário médio pago era de R$ 974,90, o mesmo de agosto.

Segundo Pereira, a queda de 1,2% no rendimento médio real na região metropolitana de São Paulo em setembro ante agosto foi responsável pelo recuo da renda na média da pesquisa. Os segmentos que mais contrataram na região foram comércio, construção e serviços domésticos.

Divergência é só aparente: sinal é de estabilidade

MÉTODOS DIFERENTES: O descompasso entre os números do desemprego do IBGE, que apontam alta, e do convênio Fundação SeadeDieese, que registram queda, não indica uma contradição, como se poderia imaginar à primeira vista. Estatisticamente, ambos os indicadores revelam relativa estabilidade no mercado de trabalho. Além disso, as duas pesquisas usam metodologia distintas.

A principal diferença, que explica a disparidade entre as taxas, é quanto à classificação de "desempregado". O IBGE estima somente o desemprego aberto, referindo-se às pessoas que procuraram emprego nos 30 dias anteriores à consulta. A Seade/Dieese calcula o desemprego nas categorias aberto, oculto pelo trabalho precário (quem fez "bico", mas procurou emprego fixo) e pelo desalento (desistência temporária de procurar emprego).

Outra diferença importante é que os dados da Seade/Dieese referem-se a médias móveis trimestrais, enquanto os do IBGE são mensais. Para calcular a taxa de setembro, que ficou em 16,9% da PEA, foram considerados dados de julho, agosto e setembro. Esse critério faz com que o índice varie sem oscilações bruscas.

Os dados sobre o rendimento médio real das pessoas ocupadas também não batem. Na verdade, os números do IBGE, que mostram acomodação, referem-se a setembro. Já os da Seade/Dieese, que indicam crescimento, são anteriores - média de junho, julho e agosto.