Título: Reservas ainda não são 'o ideal', diz Meirelles
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2005, Economia & Negócios, p. B9

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, disse que o nível ideal de reservas em moeda estrangeira do Brasil ainda não foi atingido. Mas, segundo ele, o crescente debate sobre o tema é positivo. "Não chegamos lá ainda", afirmou Meirelles, referindo-se ao nível de reservas considerado ideal pelo BC. "Mas essa discussão é positiva, pois tudo na economia tem um custo, inclusive um BC mais agressivo que compra mais". Segundo estimativas do mercado, as sucessivas compras de moeda estrangeira realizadas pelo BC nos últimos tempos já levaram as reservas líquidas brasileiras a um nível superior aos US$ 45 bilhões, considerado por vários analistas muito próximo do patamar necessário para deixar o país numa situação confortável para lidar a choques externos. Ao comprar dólares, o BC ajuda a fortalecer a cotação do real, uma prática criticada pelo setor exportador. Essas operações também representam um custo para as contas públicas.

Meirelles disse que o BC não vai antecipar quando o nível de reservas ideal poderá ser atingido. "A divulgação ocorrerá apenas após isso acontecer", explicou.

Meirelles disse que um "BC tem que se acostumar a ser criticado". E citou como exemplo declarações de um colega do Banco do México. "Ele explicou que durante muito tempo o BC mexicano foi criticado por não acumular reservas, por não formar um colchão de proteção para o país", disse. "Mas a partir de um certo momento, começaram a surgir discussões e críticas de que as reservas do BC mexicano já eram exageradas e impunham um custo desnecessário. Esse processo de discussão é natural."

Liquidez - Meirelles, disse que durante seminário sobre América Latina do Banco Mundial, realizado hoje na capital espanhola, prevaleceu a avaliação de que os mercados emergentes não estão prestes a enfrentar uma crise de liquidez, como apostam alguns analistas.

Cerca de 100 autoridades e representantes de bancos privados participaram do evento. "A liquidez internacional deve continuar confortável, independente da política monetária norte-americana, e beneficiando os emergentes", afirmou. "Essa liquidez está sendo alimentada pelas volumosas reservas dos países asiáticos e também, numa tendência mais recente, pelo acúmulo de poupança entre os países exportadores de petróleo."

O presidente do BC, no entanto, disse que as incertezas com a política monetária nos Estados Unidos deverão gerar alguma volatilidade nos mercados. "Não há dúvida de que a volatilidade dos treasuries (títulos do Tesouro dos Estados Unidos) pode aumentar". Ele observou que, apesar da tendência de alta dos juros nos EUA, os treasuries ainda oferecerem retorno considerado muito baixo para os investidores. "Isso contraria o comportamento histórico dos treasuries em outros apertos monetários do passado".

Segundo Meirelles, os mercados estão preparados para uma maior volatilidade. "Não será surpresa para ninguém se as taxas dos treasuries subirem um pouco", afirmou, Mas, segundo ele, isso poderá ainda demorar. "A história recente tem mostrado que as surpresas têm vindo do lado oposto daquilo que é esperado pelo mercado."

Brasil "impressiona" - Meirelles disse que os indicadores mais recentes da dívida brasileira "impressionaram" positivamente os participantes do seminário do Banco Mundial. Segundo ele, predominou a percepção de que o Brasil está muito mais preparado para enfrentar eventuais ajustes externos. "A melhora do Brasil foi muito importante", disse. "Mas isso não significa que o país pode se dar ao luxo de parar de fazer as coisas certas."