Título: Moradores pedem água, luz, transporte
Autor: Fabiana Cimieri
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/10/2005, Vida&, p. A15

Os moradores de pequenas favelas instaladas no Maciço da Pedra Branca, na zona oeste do Rio, reconhecem a importância ecológica da área de preservação ambiental onde se instalaram. Porém, mais importante do que isso, eles acham que as autoridades públicas deveriam se ocupar da falta de estrutura urbana do local. Ali não há luz, saneamento básico, escolas, hospitais e rede de transporte. Um dos primeiros moradores de uma favela na Boiúna, o comerciante Roberto Barcelos diz que quando chegou em 1963 eram apenas 11 moradores. Hoje são centenas. Alguns deles já invadiram os limites do Parque Estadual da Pedra Branca, área de proteção ambiental desde 1974.

"É normal crescer. Aqui é tudo improvisado, o esgoto cai no rio, não temos água, queria que tivesse tudo isso. Mas o ambiente também é importante para respirarmos melhor", disse.

A estudante Michele Pinheiro, de 19 anos, reclama da dificuldade de transporte e da falta de opções de lazer. Moradora de uma favela conhecida como Monte da Paz, na fronteira com o parque, ela diz que é importante preservar o rio que cruza a comunidade, mas reconhece que nenhum dos moradores colabora com os fiscais do parque que tentam conscientizá-los.

"A verdade é que eles querem morar num lugar urbanizado - com asfalto, esgoto e água encanada. Essa história de preservar o ambiente é importante para a classe média. Eles repetem o discurso, mas o essencial para eles é ter um lugar para morar", disse Neila Côrtes, administradora do parque.

Apesar das reclamações, os moradores vêem pelo menos um ponto bastante positivo nas favelas onde moram: a ausência do tráfico de drogas. O isolamento, admitem, dificulta o estabelecimento das facções criminosas que aterrorizam outras favelas, como aquelas ao redor da Floresta da Tijuca.

Só que, para ela, se o Estado e a prefeitura não se juntarem para enfrentar o problema da favelização, em breve as favelas da Pedra Branca irão crescer cada vez mais, e junto virão a violência e o tráfico de drogas. "O Maciço da Tijuca disse para o Maciço da Pedra Branca: Eu sou você amanhã", comparou Neila.