Título: OIT debate abertura têxtil mundial
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/10/2005, Economia & Negócios, p. B7

Organização Internacional do Trabalho, empresários e trabalhadores analisam expansão da China e impacto no mercado de trabalho

Pela primeira vez, empresários, governos e trabalhadores de todo o mundo se reúnem para debater os impactos das exportações chinesas de têxteis, especialmente no que se refere ao desemprego que o fim das barreiras que perduraram por 40 anos pode gerar nos países menos competitivos. A partir de hoje, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) reúne os diversos grupos afetados na tentativa de estabelecer uma estratégia global para salvar o setor nos países mais prejudicados pela concorrência asiática. O Brasil enviará à reunião representantes do Ministério do Trabalho e do Itamaraty. Em um relatório que serve de base para os debates, a OIT concluiu que o setor têxtil no mundo é responsável por 40 milhões de postos de trabalho e que a China e a Índia foram os grandes beneficiados com o fim do protecionismo. O sistema de cotas de exportação durou 40 anos e foi suspenso no início deste ano.

Os países ricos tiveram 10 anos para se preparar para essa data, mas, mesmo assim, muitos se queixaram. Com a abertura dos mercados, os investimentos na China no setor têxtil aumentaram, incrementando a produção e exportações. Países que não aplicavam cotas, como o Brasil, começaram a receber têxteis chineses a preços cada vez mais competitivos e ainda tiveram de disputar outros mercados com os chineses.

No caso do Brasil, a OIT sugere que a mudança no comércio mundial de têxteis não afetou os produtores brasileiros de forma excessivamente dura. "O Brasil parece ter resistido bem os primeiros meses posteriores à supressão dos contingentes", diz o informe da entidade, destacando ainda que o País foi beneficiado pelo clima econômico favorável a partir de 2003, que propiciou novos investimentos.

Prova disso é que o setor só perdeu para a área de alimentação em criação de empregos no País em 2004, com 88 mil novos postos, segundo a OIT. Quanto às exportações, os investimentos no Brasil teriam garantido aumento das vendas do País de 3,6% entre janeiro de 2004 e janeiro de 2005.

Mas nem todos conseguiram resistir à concorrência chinesa. Bangladesh perdeu US$ 52 milhões em exportações só em janeiro de 2005, embora tenha recuperado terreno. Alguns países começam a registrar redução de postos de trabalho: nos Estados Unidos, entre maio de 2004 e maio de 2005, o número de trabalhadores caiu 6,5%; na Europa, caiu 5%; no Quênia, já desapareceram 39 mil postos. O México também registra cada vez menos espaço no mercado internacional.

Já os chineses aumentaram as exportações de têxteis em 18,4% nos quatro primeiros meses do ano. A Índia avançou 28%. Mas, ressalva a OIT, as exportações chineses vêm caindo gradativamente desde janeiro, por causa de providências tomadas pelos países para evitar uma invasão de produtos chineses.

Durante o encontro que termina apenas na quarta-feira em Genebra, os especialistas vão ainda examinar estratégias inovadoras adotadas por alguns países e empresas em sua busca por competitividade como base de um plano internacional para o setor.