Título: Aftosa no Paraná é culpa do governo federal, diz Requião
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/10/2005, Economia & Negócios, p. B5

Governador diz que Estado está perdendo 10 anos de trabalho no combate à doença e paga o preço da desídia do governo federal

O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), culpou o governo federal pelos suspeitos focos de febre aftosa no Estado - o resultado do exame de 19 animais que apresentaram sintomas em 4 propriedades deve sair entre hoje e amanhã. "Estamos pagando o preço da desídia do governo federal", afirmou. "Estamos perdendo 10 anos de trabalho intenso do governo do Paraná no combate à aftosa, simplesmente porque o governo federal se incomoda mais em pagar dívidas que nós não sabemos nem se temos do que cuidar do Brasil." Requião disse que a União passou três anos sem repassar nenhum recurso à defesa sanitária animal no Estado. Segundo ele, não seriam os R$ 1,5 milhão oferecidos recentemente pelo Ministério da Agricultura que resolveriam o problema. Por isso, a "participação simulada do governo federal" foi recusada. "Se quiserem passar um recurso consistente, suficiente para uma campanha, o Paraná aceita, mas essa brincadeira de R$ 1,5 milhão é rigorosamente desnecessária", acentuou. De acordo com a Secretaria da Agricultura, o próprio Estado tem investido cerca de R$ 27 milhões anuais para a defesa sanitária.

Desde sexta-feira, 40 propriedades rurais estão interditadas no Paraná por causa da suspeita de febre aftosa. Dessas propriedades, apenas uma está na região norte - a Fazenda Flor do Café, em Bela Vista do Paraíso. As demais estão no noroeste.

A Fazenda Flor do Café, que tem 256 cabeças, alojou animais provenientes da Fazenda Bonanza, de Eldorado (MS), município onde foi notificado o primeiro foco de aftosa. As duas propriedades pertencem a José Moacir Turquino, de Londrina. Os animais foram vendidos no dia 4 durante a Eurozebu, promovida pela Sociedade Rural do Paraná, com sede em Londrina. A Eurozebu comercializou 800 reses, e todas as fazendas que receberam esses animais estão interditadas, mesmo aquelas onde não há suspeita da doença.

Ontem o diretor-presidente da Agência Estadual de Defesa Animal e Vegetal (Iagro), João Cavalléro, disse que o Paraná deve informar qual a data que os focos suspeitos de aftosa surgiram no Estado. Segundo ele, essa informação isentará Mato Grosso do Sul de responsabilidade sobre os focos suspeitos no Estado vizinho. Ele criticou ontem as afirmações do governo paranaense de que a introdução do vírus naquele Estado foi provocada por animais de Mato Grosso do Sul.

EXAGERO

O secretário de Agricultura e Abastecimento do Paraná,Orlando Pessuti, considera "exageradas" as restrições impostas por quatro Estados aos produtos de origem animal procedentes de seu território. A crítica foi feita ontem por Pessuti, ao comentar o bloqueio de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro aos produtos de origem animal do Paraná por causa da suspeita de aftosa.

"Não é possível que produtos industrializados sejam barrados nas fronteiras", queixou-se Pessuti, afirmando já ter solicitado aos secretários de Agricultura dos quatro Estados que as restrições sejam atenuadas. "Carne industrializada e leite longa vida e em pó já foram suficientemente imunizados. Não há, portanto, motivo para que não possam entrar nesses Estados", disse o secretário.