Título: Pecuaristas querem parceria no controle
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/10/2005, Economia & Negócios, p. B5

Ganha corpo entre líderes da pecuária a tese de que o governo brasileiro, com a participação da iniciativa privada, deve criar uma agência de controle sanitário no País. As autoridades devem também dar força à atuação de organismos como o Grupo Interamericano de Controle da Febre Aftosa para deixar claro que problemas de doenças em animais - como a aftosa - não pode ser visto isoladamente, como responsabilidade de um único país. Segundo João Carlos de Souza Meireles, pecuarista e secretário de Ciência e Tecnologia de São Paulo, há grande interesse dos americanos em aplicar recursos humanos e dinheiro no combate às doenças animais. Explicou que, além dos pecuaristas dos Estados Unidos, os produtores de milho e soja do meio-oeste americano também estão dispostos a ajudar. O motivo é simples: cerca de 70% da soja e do milho produzidos nos Estados Unidos são absorvidos pela alimentação de 40 milhões de cabeças criadas por ano nos grandes confinamentos. "Um foco de aftosa naquela região seria um desastre, um prejuízo sem precedentes, envolvendo toda a cadeia produtiva."

Meireles lembra que ninguém está livre do vírus, que tem se mostrado resistente e surgido em várias áreas. "Apesar do frio intenso, em 2001 apareceu um foco de aftosa na Inglaterra e, para debelar a doença, os ingleses gastaram 2 bilhões de libras esterlinas, ou uma vez e meia o valor anual das exportações do Brasil em carne bovina."

Para controle da aftosa, o Brasil investe hoje cerca de R$ 1 bilhão por ano. Só para imunizar o rebanho bovino são gastos por ano R$ 400 milhões em vacinas ou 400 milhões de doses a R$ 1,00 por cabeça, na fazenda.

Segundo Meireles, a criação da Agência de Defesa Animal no Brasil daria muito mais agilidade ao controle das doenças. Hoje os técnicos sanitários federais estão divididos em dois grandes grupos: os de defesa, que controlam principalmente a vacinação, e os de inspeção animal, a quem cabe verificar a sanidade dos animais e da carne, principalmente nos frigoríficos. Como os recursos oficiais são escassos e o serviço público é naturalmente lento, há, entre muitos deles, disputa de espaço e poder. "E quem paga o pato é o usuário", diz Meireles.