Título: CPI reúne Valério, Costa Neto e Delúbio para esclarecer mensalão
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/10/2005, Nacional, p. A4

Os extratos bancários que comprovam pagamentos regulares do esquema de Marcos Valério Fernandes de Souza ao PL serão o principal instrumento da CPI do Mensalão na acareação que colocará frente a frente o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o próprio Marcos Valério, sua gerente financeira na SMPB, Simone Vasconcelos, e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, agora expulso da legenda. Marcada para quinta-feira, a acareação é o item mais importante da agenda carregada da CPI esta semana, e vai incluir também os tesoureiros do PTB, Emerson Palmieri, e do PL, Jacinto Lamas, além do ex-assessor do PP João Cláudio Genu e do ex-presidente da Casa da Moeda Manoel Severino dos Santos.

Costa Neto renunciou ao mandato parlamentar, sustentando a tese de que não passava de invenção o pagamento de "mesada" a parlamentares governistas, denunciado pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) para incriminar o governo, o PT e seus aliados. Mas os técnicos da CPI que esmiuçaram os repasses de R$ 6 milhões da SMPB de Marcos Valério ao PL, entre fevereiro e agosto de 2003, estão convencidos de que as transferências sistemáticas reforçam a idéia do mensalão e não de pagamentos eventuais para socorrer o caixa de campanha do partido.

Em um exercício de contabilidade, os técnicos da CPI constataram que, divididos os R$ 6 milhões ao longo dos cinco meses em que foram realizados os repasses, se obtém uma transferência mensal de R$ 1,5 milhão. E, se esta quantia for repartida entre os 41 deputados e senadores filiados ao PL à época, lembram os técnicos, chega-se ao valor mensal de R$ 36,5 mil por parlamentar, bem próximo do "número mágico" de R$ 30 mil do mensalão denunciado por Jefferson.

Para mostrar que Marcos Valério continua disposto a colaborar com as investigações, seu advogado enviou uma correspondência à CPI do Mensalão na sexta-feira, propondo espécie de "roteiro" que os técnicos consideraram útil não só para comprovar denúncias do publicitário como para avançar no inquérito. "Esses dados, registros e documentos tornarão mais eficiente e produtiva a atividade investigatória desta CPI nas acareações do dia 27", disse o advogado Marcelo Leonardo.

REGISTRO EM HOTÉIS

Como Simone Vasconcelos afirmou que, além das operações bancárias, ela realizava pagamentos em espécie, o advogado sugere à CPI que providencie o registro de entrada e presença em três hotéis de Brasília (Grand Bittar, Nacional e Blue Tree) e outros quatro de São Paulo (Blue Tree, Sofitel, Intercontinental e Paulista Plaza), nas datas de recebimento dos repasses que constam da lista entregue por Marcos Valério à CPI.

Marcelo Leonardo também propõe que a comissão trabalhe com os registros das quebras de sigilo telefônico com os telefonemas dados e recebidos por Simone e Marcos Valério a Costa Neto, Delúbio, assessores, funcionários ou parentes. O advogado de Valério aponta, ainda, para a necessidade de a CPI ter em mãos cópias dos recibos dos saques assinados pelos suspeitos, funcionários e parentes, com as respectivas datas e valores.

FHC

Além do mensalão, a CPI também vai investigar esta semana a compra de votos para a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso. Estão convocados para depor às 11h30 desta terça-feira os ex-deputados Osmir Lima (PFL-AC), que renunciou para não ser cassado, e Chicão Brígido (PMDB-AC), que teria testemunhado as negociações. Na quarta-feira, será a vez de Ronivon Santiago, outro que renunciou para fugir à cassação.

Na semana passada, Ronivon apresentou um atestado de saúde para justificar sua ausência na CPI, mas o presidente da Comissão, senador Amir Lando (PMDB-RO), já avisou que daqui em diante os convocados que alegarem doença para faltar ao depoimento terão de se submeter à junta médica para comprovar a alegação.

O ex-assessor do ministério da Cultura Roberto da Costa Pinho, que aparece na lista dos beneficiários de repasses de Marcos Valério, deverá depor na sexta-feira, dia 28. Pinho, que assessorou a campanha do presidente da CPI dos Correios, Delcídio Amaral (PT-MS), era aguardado pela CPI na quinta-feira passada, mas está desaparecido e nem a Polícia Federal havia conseguido localizá-lo.

Seu advogado telefonou à CPI para avisar que o cliente encontrava-se em uma fazenda no interior do País e que estaria disponível para prestar depoimento no final da semana.