Título: Classe média teme mais a violência
Autor: Alexandre Rodrigues e Karine Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/10/2005, Metrópole, p. C6

A violência urbana tornou-se uma questão nacional, mas uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que a segurança não é a preocupação principal dos brasileiros das classes A e E. É um pesadelo mesmo para a classe média. A constatação é do Índice de Condições de Vida (ICV), criado pela FGV a partir da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, divulgada este ano. Neste segundo estudo com base na POF, foram analisados os dados de 26 capitais e do Distrito Federal e apresentada uma novidade: o índice específico para a violência. Ele faz parte de um estudo maior que traz Brasília em 1º lugar e Rio Branco em último no quesito qualidade de vida. O resultado sugere que, enquanto os mais ricos se queixam de problemas ambientais ou com vizinhos e os mais pobres esperam melhora na moradia, a violência aflige as classes B, C e D. Mas, mesmo com um perfil forte de classe média, Brasília é a cidade que deixa os habitantes mais satisfeitos com a segurança. No ranking dos municípios onde a população menos percebe a violência perto do domicílio, teve uma avaliação 72,76% acima da média nacional.

"Brasília foge da regra, a violência também é sentida na classe A. Mas essa percepção obedece a fatores atípicos, como a geografia da cidade, que ajuda a ter dados diferentes", disse Ricardo Wyllie, um dos pesquisadores da FGV Projetos.

A campeã de queixas é Belém: 79,04% abaixo da média do País. A capital paraense é seguida por Belo Horizonte e Porto Alegre, com -60,06% e -38,51%, respectivamente.

A pesquisa surpreende ao mostrar Rio e São Paulo em posições intermediárias. Em meio à luta entre traficantes fortemente armados e policiais, o Rio fica um pouco acima da média na percepção da violência: 1,24%. São Paulo tem índice negativo: 13,64% abaixo da média.

"Essa percepção é direta dos indivíduos, relativa à área de seu domicílio. Não tem relação com armas. Eles avaliam o bem-estar. Há várias hipóteses e uma delas pode ser o fato de que elas se adaptam", explicou o coordenador da pesquisa, Fernando Blumenschein.

A violência em São Paulo, para a advogada Desireé Durãns, de 65 anos, "é o maior problema da cidade". "Porque outros, como trânsito e poluição, são mais facilmente controlados."

A preocupação com a violência só é a mais citada pela classe A (renda acima de R$ 7.400,00) em Teresina, Fortaleza, Natal, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e Brasília. Nas outras, prevalecem questões ambientais. Em São Paulo, a poluição é a que mais assusta os ricos. No Rio, são os vizinhos. Já entre os mais pobres, a violência é a queixa principal em Natal, Recife, Vitória e Porto Alegre.