Título: 2 mil empresas lucram com programa da ONU
Autor: Maria Teresa de Souza e Eduardo Salgado
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/10/2005, Internacional, p. A18

Mais de 2 mil das 4 mil empresas de 66 países que faziam negócios com o Iraque de Saddam Hussein, por intermédio do programa Petróleo por Alimentos, pagaram subornos para obter contratos vantajosos. Essa é a principal conclusão no relatório final da comissão independente que investigou corrupção nesse programa da ONU. O Petróleo por Alimentos esteve em vigor durante um período em que o Iraque foi submetido a sanções internacionais por causa da invasão do Kuwait, em 1990. De 1996 até 2003 (quando Saddam foi deposto), o Iraque só estava autorizado a vender petróleo em troca de mantimentos, remédios e outros itens básicos para a população, num esquema controlado pela ONU. No entanto, o governo de Saddam lucrou cerca de US$ 1,8 bilhão com subornos e outros pagamentos ilícitos de empresas que importavam petróleo do país ou exportavam os bens básicos.

Segundo o relatório, o Iraque vendeu um total de US$ 64,2 bilhões em petróleo para 248 empresas, das quais 139 fizeram pagamentos ilícitos (subornos). Em troca, 3.614 empresas venderam US$ 34,5 bilhões em bens para o Iraque, das quais 2.253 pagaram subornos.

Ontem, Volcker distribuiu seu quinto e último relatório, no qual são citados no esquema de suborno gigantes como a sueca Volvo, a alemã Siemens, a americana-alemã Daimler-Chrysler e a espanhola Repsol.

Também são relacionadas algumas pessoas, como o deputado britânico George Galloway, o ex-ministro do Interior da França Charles Pasqua e o o ex-embaixador francês nas Nações Unidas, Jean-Bernard Mermimée (que está preso por corrupção).

Esses nomes constavam de relatórios anteriores.

O Banque Nationale de Paris (BNP), designado para receber o dinheiro das vendas do programa, foi criticado por não detectar as fraudes.

O relatório diz que a Petrobras teve um contrato no valor de US$ 137 milhões, mas não recebeu nenhum pedido de propina. A Petrobras International Finance Co, um dos braços externos da empresa, com sede na Ilhas Cayman, teve dois contratos, que juntos, somaram US$ 207 milhões. De acordo com Marc Smrikarov, do departamento de comunicação do comitê independente responsável pelo relatório, a Petrobras International Finance Co teria recebido um pedido de propina no valor de US$ 179 mil.

O relatório final diz que a estatal brasileira não pagou nem um centavo do valor pedido.