Título: Aperto é recorde, mas não paga juros
Autor: Renata Veríssimo, Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2005, Economia & Negócios, p. B1

Economia de R$ 86,5 bilhões supera meta mas é insuficiente para os juros da dívida, que somam R$ 120,14 bilhões no ano

O setor público brasileiro economizou R$ 86,5 bilhões este ano, um recorde para o período, segundo a série do Banco Central (BC) iniciada em 1991. Esse valor corresponde a 6,1% do Produto Interno Bruto (PIB), muito mais do que os 4,25% do PIB fixados como meta ou os 5% do PIB que a área econômica quer alcançar, sob oposição cerrada dos demais ministérios. Em setembro, o governo já cumpriu a meta para todo o ano, que é R$ 82,75 bilhões. O arrocho recorde não foi suficiente para cobrir os gastos com pagamento de juros da dívida pública, que bateram novos recordes. Eles atingiram R$ 14,46 bilhões em setembro e somam R$ 120,14 bilhões no ano. Apenas em setembro, a economia do setor público foi de R$ 7,57 bilhões, valor também recorde para o mês. Esse resultado foi totalmente utilizado para pagar os juros e ainda faltaram R$ 6,89 bilhões.

Segundo os dados do BC, apenas em 1999 e em 2001 o setor público conseguiu superar a meta de economia (superávit primário) do ano já em setembro, mas nunca com folga tão grande. Esse excesso, porém, será parcialmente consumido até dezembro, quando as despesas do setor público crescem em razão do 13º salário dos funcionários e dos aposentados, além do pagamento a fornecedores e prestadores de serviço que ocorre nessa época. "O resultado de setembro abre uma margem razoável, de R$ 3,75 bilhões, o que nos permite déficits mensais de R$ 1,2 bilhão no último trimestre", afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC (Depec), Altamir Lopes. "Isso é uma poupança saudável para o cumprimento da meta."

Lopes alertou que o governo continuará gastando com "parcimônia e de olho nos resultados". O resultado primário em 12 meses até setembro, de R$ 97,843 bilhões, segundo Lopes, também foi o melhor da série para o período.

JUROS

O resultado primário não considera os gastos com juros. Se essa despesa entrar no cálculo, o resultado, chamado nominal, passa a negativo. No acumulado do ano, o déficit soma R$ 33,64 bilhões, o que corresponde a 2,37% do PIB. Em 12 meses, até setembro, o resultado nominal atingiu R$ 55,27 bilhões (2,91% do PIB), o pior desde junho de 2004. Ao longo do ano passado, o déficit nominal do setor público ficou em R$ 47,144 bilhões, ou seja, 2,67% do PIB.

As despesas com juros nos últimos 12 meses também tiveram o pior resultado desde novembro de 2003 ao atingirem R$ 153,12 bilhões em setembro, 8,07% do PIB. De janeiro a setembro de 2005, os gastos corresponderam a 8,47% do PIB, enquanto no mesmo período de 2004 estavam em R$ 95,28 bilhões, ou 7,4% do PIB. Em todo o ano passado, o pagamento de juros ficou em R$ 128,25 bilhões, ou 7,26% do PIB.