Título: A cada dia mais mercados ignoram a crise política
Autor: SONIA RACY
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2005, Economia & Negócios, p. B2

O mercado financeiro aprofunda seu "autismo" em relação à crise política, que dura mais de cinco meses. As novas denúncias contra Lula e o PT, levantadas pele revista Veja, não produziram um só ruído no comportamento dos mercados nacionais ontem. E pior: nem sequer foram comentadas nas mesas de operações, onde o foco principal é o futuro da economia americana. A revista levantou suspeitas de a campanha de Lula para a presidência, em 2002, ter recebido entre US$ 1,4 milhão e US$ 3 milhões de Cuba, conforme os dois ex-assessores do ministro Antonio Palocci, quando este era prefeito de Ribeirão Preto: Vladimir Poleto e Rogério Buratti. Coisa que a legislação eleitoral brasileira proíbe.

Quais são as chances de o PT ter seu registro cancelado e da instalação de um processo de impeachment contra o presidente? Segundo análise do CSFB , a denúncia levantada pela Veja é de difícil comprovação. "Nem Buratti, nem Poleto viram os dólares. A história lhes teria sido contada por Ralf Barquete, também ex-assessor de Palocci em Ribeirão Preto, que morreu ano passado, de câncer", coloca. Espera, no entanto, uma reação do PFL e do PSDB rumo a uma articulação para convocar as pessoas envolvidas nessa nova denúncia para depor nas CPIs do Congresso. Também esperam elevação do ruído político.

Caso não se comprovem as novas denúncias, porém, o risco de um processo de impeachment prosperar é baixo, segundo os analistas do banco. Afinal, a popularidade do presidente ainda se encontra próxima a 45% e o presidente da Câmara, Aldo Rebelo, responsável por aceitar ou rejeitar pedidos de impeachment, é aliado do governo.

Tampouco o embate entre a ministra Dilma Rousseff e a equipe econômica, em torno de um novo ajuste fiscal da economia, teve reflexos nos mercados. "Se cair metade do governo, nada acontecerá. Agora, se houver surpresas no ajuste da economia nos EUA, a coisa fica preta", disse ontem um conhecido operador de mercado.