Título: Nomeado autor de textos da tortura
Autor: O vice Dick Cheney escolhe David Addington, que fe
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2005, Internacional, p. A12

O vice-presidente americano, Dick Cheney, nomeou ontem David Addington para ocupar a chefia de seu gabinete, em substituição a I. Lewis Scooter Libby - que renunciou ao cargo logo depois do anúncio de que seria indiciado no processo que investiga a revelação da identidade de uma agente secreta da CIA, Valerie Plame. O vice-presidente também nomeou John Hannah assessor de Segurança Nacional, cargo que Libby acumulava. Tanto Addington quanto Hannah já integravam a equipe de assessores de Cheney. Addington, principal advogado do gabinete do vice-presidente, é o autor dos chamados "memorandos da tortura", que encontram brechas nas convenções internacionais para empregar "meios físicos" em interrogatórios de suspeitos de terrorismo.

Também ontem, autoridades judiciais anunciaram que Libby fará quinta-feira seu primeiro depoimento depois do indiciamento. Ele deve responder por cinco crimes, de acordo com as conclusões do júri de instrução presidido pelo promotor federal Patrick Fitzgerald: um de obstrução da Justiça, dois de perjúrio e dois de falso testemunho.

Libby foi o único indiciado na investigação de vazamento da identidade de Valerie Plame para a imprensa - numa aparente ação de vingança política contra o marido dela, o ex-embaixador Joseph Wilson, que havia desmentido publicamente um dos argumentos do presidente americano, George W. Bush, para invadir o Iraque. No entanto, outro personagem importante da Casa Branca, o assessor político de Bush, Karl Rove, ainda está sob investigação. Wilson afirmou ontem que Bush deveria demitir Rove por seu suposto envolvimento no vazamento.

De acordo com fontes próximas do governo Bush, Libby vai se declarar inocente e argumentar que qualquer falha em seus depoimentos anteriores se deu em razão de lapsos de memória. Numa dessas declarações, Libby afirmou só ter tomado conhecimento de que a mulher de Wilson era agente da CIA pela imprensa. Os investigadores, porém, descobriram que ele já tinha conversado sobre ele e Valerie durante uma reunião com Cheney antes do vazamento. Se condenado, o ex-chefe de gabinete pode ser sentenciado a mais de 30 anos de prisão.

Os advogados da Casa Branca também esperam evitar que Libby seja submetido a um julgamento público - que poderia expor o envolvimento do pessoal de Cheney na campanha para convencer os americanos da necessidade da guerra do Iraque e da ação agressiva contra os que se opuseram ao conflito.

Bush evitou ontem comentários sobre a possível demissão de Rove, exigida tanto por Wilson como por alguns congressistas democratas. O presidente não realizou a entrevista coletiva conjunta de praxe após receber na Casa Branca o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi.