Título: Conselho de Ética corre para refazer relatório
Autor: Denise Madueño e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/10/2005, Nacional, p. A6

Certos de que o papel do Conselho de Ética no processo de cassação do deputado José Dirceu (PT-SP) tinha encerrado ontem, com a aprovação do parecer do deputado Júlio Delgado (PSB-MG), os conselheiros, no início da noite, voltaram às articulações para tentar apressar ao máximo o processo de agora em diante. Alguns não disfarçavam a frustração, embora reconheçam o direito do ex-ministro de buscar todos os meios para se salvar. "Eles estão usando todos os expedientes juridicamente cabíveis, mesmo qeu moralmente questionáveis. Mas não vou questionar o direito deles. Agora, temos que tomar cuidado redobrado", disse o tucano Carlos Sampaio (SP). Na quarta-feira, Sampaio foi o único integrante do conselho a recomendar que o relator Júlio Delgado lesse integralmente a nova versão do relatório, que atendia à determinação do Supremo Tribunal Federal de não usar dados obtidos com quebras de sigilo determinadas pela CPI dos Correios. O deputado achava até que deveria ser concedido o pedido de vista (prazo para análise mais detalhada) da deputada Ângela Guadagnin, com o argumento de que era melhor perder dois dias do que ter de atender a nova decisão do Supremo, como aconteceu. Sem alternativa a não ser cumprir a decisão da Justiça, Júlio Delgado anunciou que o relatório será rigorosamente ingual ao anterior, suprimindo informações decorrentes de quebra de sigilo, e que lerá todo o documento na reunião de segunda-feira. Reclamou, porém, da interferência do Judiciário no Legislativo. "A decisão do STF tem que ser cumprida. Mas é outra intromissão protelatória. Vou ter que ler de novo o relatório, mas o resultado já é conhecido", afirmou Delgado, que no início da tarde de ontem parecia aliviado com o que parecia ser o fim de sua tarefa no caso José Dirceu.

O presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), também não escondeu a contrariedade com a decisão do Supremo. "Nada foi feito de errado", afirmou, com uma cópia da decisão do ministro Eros Grau nas mãos. O deputado Orlando Fantazzini (PSOL-SP) reconheceu o direito de Dirceu "legal e legítimo de procurar todos os instrumentos" para escapar da cassação. "Paciência, o que vai acontecer é que o relator vai digitar o relatório e provavelmente terá de ser concedido o pedido de vista da deputada Ângela. Vai atrasar um pouco, mas o mérito é o mesmo. Acho que a decisão já está tomada, o sentimento da Casa foi expressado hoje (ontem). Na pior hipótese, vamos votar no dia 8, para decisão do plenário no dia 9", calculou Fantazzini.