Título: Valdemar fala, ex-mulher borda
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/10/2005, Nacional, p. A9

A acareação entre o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, o empresário Marcos Valério de Souza, a gerente Simone Vasconcelos e o ex-deputado Valdemar Costa Neto quase virou piada de salão. Discussões repetitivas e versões inverossímeis, como a de Delúbio - o único a comparecer com habeas-corpus que lhe permitia não falar a verdade -, fizeram com que a CPI do Mensalão acabasse não sendo o centro das atenções dos trabalhos do Congresso. Ao fundo, entre assessores e jornalistas, Maria Cristina Mendes Caldeira, ex-mulher de Costa Neto, bordava uma almofada branca com um escrito em lilás: "Chega". Ela explicava: "Chega de corrupção e impunidade".

Com uma fixação em tudo que diz respeito a Costa Neto, Maria Cristina acompanhou de perto a acareação para saber quanto efetivamente seu ex-marido recebeu do valerioduto. "Evitei entrar com ação na vara de família, mas como ele recebeu como pessoa física, pedirei na Justiça a metade e distribuirei entre ONGs que combatem a corrupção", prometeu.

Maria Cristina chegou a enviar torpedos para parlamentares, sugerindo perguntas que deveriam ser feitas ao ex-marido. "Ela me mandou uma pergunta sobre a Coréia do Norte, mas eu não fiz. Veja se vou me submeter à ex-mulher de Valdemar?", indignou-se a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP).

A acareação mostrou um Delúbio muito à vontade, com uma postura que beirava a arrogância. Com Simone Vasconcelos sentada entre eles, Valério e Delúbio foram absolutamente formais. Os dois estão estremecidos. Marcos Valério tem atribuído a Delúbio as dificuldades que enfrenta. Ele chegou a dar a própria casa em garantia do pagamento de seu advogado, Marcelo Leonardo. Durante todo o depoimento, Valério evitou olhar para o ex-tesoureiro.

No momento em que a sessão foi suspensa para o lanche, um dos advogados do empresário tentou estimular deputados de oposição a buscar linha de investigação que demonstrasse que o PT usou outros esquemas de financiamento de campanha. A crise de credibilidade de Delúbio é tão grande que oposicionistas elogiaram a disposição de colaborar de Valério.

Delúbio comprometeu-se ao mentir na saudação inicial. Ali, fez uma negativa cheia de contradição. O ex-tesoureiro começou o depoimento contradizendo-se ao afirmar que não concedeu a entrevista ao Estado. Depois, pediu desculpas aos parlamentares e à sociedade pela entrevista que diz não ter dado.