Título: Deputado diz que repasses ao PL são prova do 'semanão'
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/10/2005, Nacional, p. A9

Repasses regulares do esquema do empresário Marcos Valério para o PL do ex-deputado Valdemar Costa Neto não deixam dúvidas de que o mensalão denunciado pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) existiu. É o que afirma o deputado Júlio Redecker (PSDB-RS), ao frisar que, não por coincidência, a CPI do Mensalão comprovou que, nas datas exatas dos repasses do valerioduto, houve troca de telefonemas entre o tesoureiro do PL, Jacinto Lamas, a gerente financeira da SMPB, Simone Vasconcelos, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o próprio Marcos Valério.

Em 17 de março, por exemplo, a Guaranhuns recebeu uma transferência de R$ 66 mil e outra de R$ 68 mil, e o suplente de deputado Adhemar de Barros Filho, dois repasses (de R$ 78 mil e R$ 88 mil). No mesmo dia, Jacinto Lamas deu três telefonemas para Simone Vasconcelos e outros dois para a SMPB.

"No caso específico do PL, os repasses picados provam o pagamento de uma semanada que, de tão gorda, tem o valor de um mensalão", resumiu Redecker, membro da CPI do Mensalão, que ontem fez acareação entre os personagens acusados no esquema. Foram cheques, depósitos em dinheiro e transferências eletrônicas à Guaranhuns Participações que, segundo técnicos que assessoram a CPI, é uma "empresa de passagem", por meio da qual os recursos do valerioduto chegaram ao PL.

Todos os repasses identificados pela CPI ao longo de 5 meses foram dispostos em uma planilha e comparados, como antecipou o Estado. Foi esta tabela que Redecker usou para inquirir Costa Neto ontem. Em fevereiro de 2003, o PL recebeu repasses de R$ 500 mil em intervalos de oito dias, no total de R$ 2 milhões. Em março, os depósitos ficaram menores, de R$ 300 mil - R$ 1,5 milhão em 5 semanas. Depois, foram interrompidos e recomeçaram em junho, com remessas feitas em três dias consecutivos, somando sempre R$ 200 mil na semana. O esquema prolongou-se até agosto, num total de R$ 2,4 milhões. De março a agosto, R$ 5,9 milhões. Um cheque de R$ 100 mil no fim no mês arredondou a quantia para R$ 6 milhões.

Redecker disse que no depoimento anterior Costa Neto afirmara que "foi tudo recurso de campanha" e "não tem periodicidade até no caso de pessoas que não são aliadas". Mas o parlamentar e os técnicos que assessoram a CPIs avaliam que, se os recursos da SMPB tivessem sido destinados ao caixa 2 do PL para cobrir despesas específicas da campanha, como alegou Costa Neto, os repasses seriam aleatórios e avulsos. Mas não foram.

Os técnicos da CPI constataram que, divididos os R$ 6 milhões ao longo dos 5 meses em que foram realizados os repasses, obtém-se uma transferência mensal de R$ 1,5 milhão. Se a quantia for repartida por 41 - o número de deputados e senadores filiados ao PL à época -, chega-se ao valor mensal de R$ 36,5 mil por parlamentar, bem próximo do "número mágico" de R$ 30 mil do mensalão denunciado por Jefferson.