Título: Copom indica Selic em queda
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/10/2005, Economia & Negócios, p. B5

O Banco Central (BC) indicou ontem que os juros continuarão a cair, mesmo com a ligeira alta da inflação em outubro. A elevação dos preços, provocada pelo reajuste dos combustíveis, deverá ser temporária, avaliaram os diretores do BC na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). O espaço para cortar os juros existe também porque a indústria deverá ter um desempenho negativo no terceiro trimestre do ano. A economia menos aquecida dá menos combustível para reajustar preços. Em outubro, o Copom cortou os juros de 19,5% para 19%. 'O que o BC disse é que não se devem esperar cortes de juros agressivos e, por isso, as apostas continuarão em novas reduções de, no máximo, 0,5 ponto porcentual', disse o consultor Roberto Padovani. Para ele, o tom da ata é de 'otimismo sem euforia'. Um dos motivos para a cautela do Copom, segundo o economista, é o ambiente externo. A ata destaca como fatores de incertezas para a economia mundial a política de juros dos Estados Unidos, os reflexos dos prejuízos causados pelos furacões e os preços internacionais, ainda elevados, do petróleo. Apesar disso, ressalta que 'o cenário externo permanece favorável, particularmente no que diz respeito às perspectivas de financiamento para a economia brasileira'. O reconhecimento de que a produção industrial poderá ter um 'freio' foi destacado pela economista-chefe do BES Investimento, Sandra Utsumi. 'A ata abriu espaço para interpretar que haverá uma frustração no nível de atividade no curto prazo, mas a pergunta é se a intensidade desse movimento determinará um ritmo maior de corte na taxa de juros.'. Segundo a ata, apesar de a capacidade de produção da indústria ter ficado em níveis elevados até agosto, a tendência é de queda no segundo semestre. 'Indicadores setoriais apontam queda no nível de atividade industrial em setembro. Dados relacionados à produção de automóveis, fluxo pedagiado de veículos em rodovias e carga de energia elétrica reforçam essa tendência.' Para o Copom, o desaquecimento não é um problema, pois o ritmo de crescimento estará compatível com a oferta. Para outubro, no entanto, o BC espera que a alta nos preços dos combustíveis continue influenciando o IPCA, mas de forma localizada e temporária. Em setembro, esse item respondeu por quase 40% do índice, diz a ata. Entre as justificativas para cortar os juros em 0,5 ponto, a ata cita as projeções de inflação do mercado para 2005, que chegaram a 5,1% - a meta do governo -, e para 2006, que baixaram de 4,8% para 4,6%. A meta de inflação para 2006 é 4,5%, com margem de 2 pontos para cima ou para baixo. A projeção do Copom para aumentos de tarifas públicas em 2006 caiu de 5,3% para 5,1%. E as previsões de reajustes de telefonia e energia elétrica deste ano não se alteraram.