Título: Brasil negocia para não retaliar EUA no algodão
Autor: Jamil Chade e Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/10/2005, Economia & Negócios, p. B11

O Brasil pode desistir de retaliar os Estados Unidos por causa da disputa sobre os subsídios do algodão. O embaixador brasileiro na Organização Mundial do Comércio (OMC), Clodoaldo Hugueney, confirmou ontem que os dois países negociam um acordo visando a paralisação do processo que corre em Genebra para a aplicação das sanções. "Ainda estamos avaliando isso em Brasília", afirmou Hugueney. A negociação ocorre a poucas semanas da visita do presidente americano, George W. Bush, ao Brasil.

O governo ganhou uma disputa na OMC contra os subsídios americanos aos produtores de algodão, em um dos contenciosos mais polêmicos dos últimos anos em Genebra. A entidade determinou que Washington deveria retirar os subsídios, mas a Casa Branca não tomou iniciativas nesse sentido. Diante da situação, o governo brasileiro decidiu pedir à OMC o direito de retaliar os Estados Unidos em US$ 1 bilhão.

O governo americano recusou o valor e a OMC iniciou uma arbitragem para determinar o montante que autorizaria o Brasil a retaliar. Mas, caso haja um entendimento entre os dois países, o trabalho dos árbitros internacionais seria suspenso, pelo menos por um período.

A embaixada do Brasil em Washington apontou que a negociação é de caráter técnico, por enquanto. Trata-se de uma tentativa de chegar a um acordo que suspenderia os procedimentos de retaliação. O governo americano também confirmou a notícia.

A idéia é dar tempo aos americanos para que tomem as medidas necessárias para a modificação dos mecanismos de apoio que distorcem o comércio internacional.

NA SALA DE ESPERA

O Brasil insiste que, em um eventual acordo, seu direito de retaliar não teria sido abandonado, mas apenas suspenso. Caso os dois países entrem em acordo, essa seria a segunda vez que o Brasil deixaria de seguir os trâmites normais da OMC para esperar por ações dos Estados Unidos.

Em julho, venceu o prazo para que os americanos retirassem outros subsídios ao algodão. Sem medidas concretas de Washington, o Brasil teria o direito de retaliar, mas fez um acordo e optou por esperar até o fim do ano para ver que medidas a Casa Branca tomaria.