Título: Ajuda do BNDES à Varig terá limites
Autor: Irany Tereza e Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/10/2005, Economia & Negócios, p. B15

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) somente garantiu participação, por enquanto, na primeira fase do plano de reestruturação da Varig, que prevê a venda das subsidiárias de logística (VarigLog) e de engenharia e manutenção (VEM). O presidente do banco, Guido Mantega, informou que já está sendo criada uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) para efetivar, em menos de 30 dias, o negócio. Depois, outra SPE terá de ser criada para ficar com os ativos da Varig, mas ainda não é certo que o BNDES participe desta segunda fase. "Desde que os credores se entendam, o banco pode entrar na segunda etapa, mas o BNDES não é ambulância, ou pronto-socorro, nem tampouco faz milagre. Não cabe a nós tomar a decisão, a responsabilidade é do conselho da empresa", afirmou, deixando claro que o banco participará como financiador das empresas interessadas na compra da VarigLog e da VEM que, segundo ele, estão cotadas em torno de US$ 70 milhões. Nesta primeira etapa, a SPE fará o depósito, nos Estados Unidos, do dinheiro necessário para saldar o débito com empresas de leasing, estimado em R$ 62 milhões, e tentar impedir o arresto de 20 a 40 aeronaves.

Ontem, durante encontro nacional de agências de viagens, o presidente da Varig, Omar Carneiro da Cunha, informou que a estatal portuguesa de aviação TAP quer exclusividade na negociação com a Varig. Ele não chegou a esclarecer, contudo, como isso será possível apesar de a legislação brasileira limitar a 20% a participação de companhias estrangeiras no capital de empresas de aviação. O executivo disse que além dos portugueses e do fundo americano de investimentos Matlin Patterson, a empresa aérea OceanAir, do empresário German Efromovich, formalizou seu interesse em participar do processo.

"A TAP indicou que gostaria de fazer o negócio com exclusividade. Os outros, eu não sei", afirmou Cunha. Ele tomou conhecimento de que o grupo europeu de manutenção ATS estaria interessado na aquisição apenas da Varig Engenharia e Manutenção, mas o interesse ainda não foi oficializado. Mantega informou que anteontem, assim que os credores autorizaram a venda, em assembléia, duas propostas foram enviadas, por e-mail, ao banco, mas não informou quais eram as empresas, alegando sigilo bancário.

A proposta da TAP prevê a injeção de US$ 100 milhões a curto prazo, e poderia chegar a até US$ 500 milhões. Já o plano do fundo Matlin Patterson, contou Cunha, terá de ser revisto e reapresentado. Segundo ele, os americanos só tomaram conhecimento do projeto de saneamento elaborado pelo BNDES na quarta-feira.

O interesse original do fundo era comprar 95% das ações da VarigLog por até US$ 103 milhões. Os outros 5% ficariam com a Fundação Ruben Berta, controladora da Varig. Mas como a TAP também tem interesse em ter participação na subsidiária, deverá haver uma modificação.

Os três potenciais investidores deverão participar da assembléia de credores, segunda-feira. Quanto à informação do BNDES de que o governo estaria empenhado em buscar solução para as perdas que a Varig teve com congelamento de tarifas entre os anos 80 e 90, Cunha espera que a negociação seja realizada brevemente.