Título: Übersexual, o sonho de toda mulher
Autor: Bruno Paes Manso e Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2005, Metrópole, p. C1

Desde crianças, as mulheres sonham com um príncipe. Nessa procura, não raro acordam ao lado de sapos. Agora, o príncipe encantado ganhou um novo nome: übersexual. Ele é quase perfeito, o último estágio da evolução dos tipos masculinos, daí a palavra alemã über, que significa ¿top¿, ¿acima¿ ou, como dizem as mulheres, ¿tudo de bom¿. Bem cuidado, sensível, fiel a seus princípios e às companheiras, ele é o sujeito sofisticado e amoroso, que muita gente duvida que exista.

Na escala evolutiva, o übersexual está um degrau acima do metrossexual, reduzido a mero ancestral. Para quem não sabe, o metro é o homem que assume sua vaidade, gosta de cremes e perfumes e é capaz de ficar horas conversando com uma mulher, mesmo quando não quer conquistá-la. Apesar de querido, ficou parecido demais com uma boa amiga. A masculinidade precisava ser resgatada e o übersexual cumpre essa tarefa.

Para muitos, esses rótulos são um modismo vazio. São criados por publicitários, que investem rios de dinheiro em pesquisas para identificar os valores do público-alvo. Mas os perfis apontados nas pesquisas jogam luz sobre novos comportamentos e ajudam o homem a refletir sobre sua condição.

¿Esses novos comportamentos masculinos são uma reação à posição atual da mulher no mundo¿, diz a publicitária Marlene Bregman, vice-presidente de planejamento da agência Leo Burnett. ¿Eles precisaram compartilhar o poder, relacionar-se com elas de igual para igual, o que trouxe à tona um lado feminino que no passado não fazia sentido.¿

Nesse mundo em que diminui o abismo entre os sexos, o emo-boy é um outro resultado da harmonia entre os gêneros. Primo mais sensível do metrossexual, ele é descolado, antenado, faz o tipo indefeso, despertando nas mulheres um olhar maternal. Mas isso não é à toa. O frágil emo quer fazer da mulher sua aliada. ¿Para continuar exercendo liderança com legitimidade, o homem teve de se adaptar ao olhar das mulheres e descobriu a vaidade, a elegância, aprendendo a usar outras armas para alcançar melhor posição no mercado¿, diz a socióloga Vera Aldrigh.

Tudo isso é muito bom, mas o velho machão não ia deixar a face da terra sem briga. A reação conservadora tem nome: ogrossexual. Na publicidade, ele é o retrossexual, alvo de propagandas de cervejas com loiras de seios fartos. Ogro que é ogro não presta atenção em suas rugas e prefere a toalha quente do barbeiro à máscara facial do cabeleireiro.

O cantor Ronnie Von, nascido no Rio, mas que adotou São Paulo para viver, acha que eles ainda são a maioria. Em 1977, Ronnie, que rejeita o rótulo de metrossexual, se separou da mulher e ganhou a guarda dos filhos. No auge da fama, abandonou viagens e mergulhou na carreira de empresário e de mãe. ¿Tenho um olhar feminino. Sou do tipo que põe uma mão na cintura e a outra na testa, para dizer aos filhos: `Vocês não reconhecem o meu esforço¿.¿

Em São Paulo, essa postura choca os ogros. Ronnie é capaz de cortar um papo de futebol para comentar um ponto de crochê que viu na borda de uma toalha. ¿Meus amigos ainda estranham e perguntam se estou jogando água para fora da bacia.¿ Certa vez, foi a um shopping sofisticado comprar lingerie para a filha. Começou a ouvir um murmurinho, olhou para fora e viu um bando na porta da loja o chamando de gay. Mas ele não brigou. ¿Tive que fugir pelos fundos.¿ Pobres ogros. Assim como o Shrek, vão precisar mudar muito para não acabar sozinhos no final da história.