Título: Garcia classifica denúncia como 'fabulação absoluta'
Autor: Vera Rosa e Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2005, Nacional, p. A4

O assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, classificou ontem como "fabulação absoluta" a denúncia de que o governo de Cuba teria contribuído com US$ 3 milhões para a campanha eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. De Paris, onde passou a última semana, Garcia ironizou as fontes da reportagem publicada por Veja, que trouxe também os detalhes sobre a trajetória do dinheiro até o Brasil, e desqualificou a própria revista. "Eu acho essa história uma fabulação absoluta. Não me consta que Cuba tenha condições para financiar campanhas políticas em outros países", afirmou. "Na literatura, a verossimilhança está também nos detalhes", completou, referindo-se às informações minuciosas da reportagem.

Garcia insistiu com o Estado que não havia lido a reportagem. Mas alegou que as fontes - o advogado Rogério Buratti, ex-assessor do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e o economista Vladimir Poleto, que igualmente participou da equipe de gestão de Palocci quando prefeito de Ribeirão Preto (SP) - não têm credibilidade. O assessor do presidente ainda afirmou que a revista "não é séria".

Na última sexta-feira, Garcia conversou por telefone, de Paris, com Lula "sobre assuntos administrativos". Ambos não teriam voltado a se falar por causa da reportagem. "Eu achei irrelevante."

Questionado sobre a possibilidade de a denúncia provocar embaraços para as relações diplomáticas entre os dois países, como a possibilidade de o diplomata cubano Sérgio Cervantes vir a se convocado para depor no País, Garcia desconversou. "Precisa ver se ele (Cervantes) vai querer depor", afirmou.

Cervantes teria sido, segundo a revista, o responsável pelos US$ 3 milhões quando foram entregues em Brasília. Trata-se de um dos articuladores da retomada de relações Brasil-Cuba nos anos 80.

Recentemente, esteve em Brasília para participar do 11.º Congresso do PC doB, em cuja abertura Lula fez um enfático discurso em defesa da sua política externa e dos programas educacionais do governo.

Garcia foi o segundo integrante do governo a manifestar-se contra a denúncia. Sábado, quando a revista começava a circular, o ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner, declarou que as contribuições e gastos da campanha foram registrados com "transparência" pelo PT e que as "especulações" publicadas por Veja "não passam de fantasia".