Título: Bornhausen e Serra fazem parceria contra o governo
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2005, Nacional, p. A6

PSDB e PFL evitam falar em impeachment, mas os dois departamentos jurídicos vão observar a apuração da nova denúncia; se houver evidências, o pedido será feito

Os presidentes do PSDB, prefeito José Serra, e do PFL, senador Jorge Bornhausen, acertaram ontem que os dois partidos vão atuar mais juntos do que nunca na investigação da mais nova denúncia contra o PT e o governo - os dólares que Cuba teria enviado para a campanha de Lula em 2002. Os dois partidos recomendaram a seus departamentos jurídicos que acompanhem juntos, e com minuciosa atenção, os desdobramentos do assunto sob a ótica jurídica. Se surgirem elementos para um pedido de impeachment do presidente Lula, os dois partidos não terão cerimônia em instruí-lo e apoiá-lo imediatamente.

Bornhausen almoçou ontem com o governador Geraldo Alckmin e depois foi conversar com Serra, que agora ocupa a presidência do PSDB. Todos foram cautelosos na abordagem do assunto. "Não se trata de ser mais ou menos cauteloso", explicou Serra, "trata-se de ser responsável". Bornhausen acrescentou: "Não partiremos para nenhuma ação que não tenha consistência jurídica."

Os dois não falaram de público, mas reservadamente combinaram a posição inicial cautelosa em relação à nova denúncia; mas, se ela se confirmar, será desfechado um ataque frontal e inclemente ao presidente. Há profunda irritação de PSDB e PFL com Lula - que, poupado na maior parte das denúncias, reage agressivamente tão logo sua situação melhora. Agora, se houver nova denúncia, não haverá mais contemplação.

DOSSIÊS

Ainda agora, o PT voltou a brandir um dossiê contra o governo passado. "Se tiver dossiê sobre o governo passado, deve apresentar não como ameaça, mas como comportamento de responsabilidade. Quem tem denúncias, não deve fazer chantagem, deve apresentá-las imediatamente", replicou um irritado Serra. Bornhausen foi na mesma linha: "Não temos de nos intimidar com ameaças, temos de cumprir nossa obrigação".

Por enquanto os dois presidentes não querem falar em impeachment. "Os fatos apontados são gravíssimos e têm de ser investigados, para ver se se comprovam ou não", ponderou Serra. "Há elementos para uma investigação, não diria que há elementos para um impeachment", observou. Bornhausen deu uma longa explicação para dizer que impeachment não deve ser pedido por um partido político ou por um parlamentar, mas por um eleitor brasileiro.

O primeiro passo já definido é que as três testemunhas da remessa de dinheiro cubano para o PT - Rogério Buratti, Vladimir Poletto e o motorista Eder Soares Macedo - serão convocados pela CPI dos Bingos. Mas os partidos só se posicionarão de forma mais substantiva depois que a denúncia tiver comprovação indiscutível. Os dois partidos vão atuar juntos, também, nas denúncias sobre caixa 2. Os dois departamentos jurídicos e as duas Executivas vão examinar uma posição comum. O PFL tem reunião de Executiva no dia 10 e o PSDB terá nova Executiva nacional a partir do dia 18.

'GRAVÍSSIMO'

Para o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), as denúncias sobre envio de dinheiro de Cuba para o PT em 2002 "são gravíssimas", mas é cedo para um debate sobre impeachment. "Essa discussão é fora de hora", declarou ontem o governador, depois de anunciar o fim das carceragens nas delegacias de São Paulo.

"O que tem que fazer é investigar", recomendou, porque "há uma denúncia extremamente grave e cabe ao Ministério Público e às CPIs buscar a verdade". Até, segundo ele, "para, se for o caso, inocentar quem está sendo responsabilizado". Ele também não aceita que a oposição seja culpada pelos escândalos. "O que há é uma enorme incapacidade do governo de superar a crise.", concluiu.