Título: Tiroteio com governo leva oposição a articular impeachment de Lula
Autor: Christiane Samarco e Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/10/2005, Nacional, p. A4

A tensão crescente entre oposição e governo exaltou os ânimos a tal ponto que líderes do PFL e do PSDB já se organizam para levar adiante um pedido de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Já o PT acusa pefelistas e tucanos de golpismo, mantém retórica agressiva e estuda a hipótese de pedir a cassação do senador Eduardo Azeredo (MG), ex-presidente do PSDB. A situação parece fora do controle do Planalto, onde a preocupação é cada vez maior. Na noite de quinta-feira, o ministro das Relações Institucionais, Jacques Wagner, telefonou para o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), para tentar estabelecer um diálogo com a oposição. Agripino reagiu com ceticismo: "O ministro Jacques Wagner não é capaz de acalmar o presidente do PT, Ricardo Berzoini, que fica fazendo competição de maldades".

Tucanos e pefelistas subiram o tom depois dos ataques verbais à oposição patrocinados por Berzoini. "Daqui para a frente será olho por olho, dente por dente", avisa Agripino, que promete levar na próxima semana, à executiva nacional do PFL, a proposta de processar Lula por uso de caixa 2 na campanha de 2002, mesmo crime que os petistas imputam a Azeredo na campanha de 1998. "Não se trata de revanche, nem de fazer oposição radical. Vamos sustentar o pedido de impeachment de Lula porque está confirmado que parte de sua campanha foi paga com dinheiro clandestino e sem origem", insiste Agripino.

Na mesma linha, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), adianta que seu partido não evitará "artificialmente" o impeachment: "Não permitiremos que um bobo alegre feito Berzoini atrapalhe os projetos do País." Os tucanos já falam numa turbulência de alta gravidade cujas conseqüências são difíceis de prever.

"O quadro da crise brutal de corrupção generalizada no Executivo e de crise no Legislativo, agravado pelo conflito entre ministros dentro do Supremo Tribunal Federal, acende o sinal amarelo para a crise institucional", avalia Virgílio. O líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), completa: "Às vezes o conflito adquire dinâmica própria. Aí ninguém segura."

Jacques Wagner admite que a situação "é muito ruim" e defende a conclusão rápida dos trabalhos das comissões parlamentares de inquérito (CPI) que investigam casos de corrupção. O ministro promete se empenhar em busca da paz: "Vou continuar perseguindo a retomada de um clima mais normal no Congresso. Esse ambiente de disputa política pré-eleitoral, de ficar disputando quem corrompeu mais, quem corrompeu menos, é ruim para todo mundo e para o Congresso.

Em nome de Lula, ele elogia a oposição por ter ajudado a aprovar a Medida Provisória 255, chamada de MP do Bem por reduzir a cobrança de impostos do setor produtivo. "É uma vitória de todos e temos de parabenizar os partidos da base e das oposições que viram a importância de aprovar a medida para o crescimento do País", diz.