Título: Executiva petista quer cassação de Azeredo
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/10/2005, Nacional, p. A4

A executiva nacional do PT decidiu recomendar a abertura de processo no Conselho de Ética contra o senador Eduardo Azeredo (MG), recém afastado da presidência do PSDB, mas só vai formalizar o pedido depois de fechar acordo com a bancada do partido no Senado. "Se houver cassação na Câmara, tem de haver no Senado", afirmou o presidente do PT, Ricardo Berzoini O PT reivindica "isonomia" no julgamento de parlamentares envolvidos nas denúncias de caixa 2 e o escândalo do mensalão e prática de caixa 2

Parlamentares petistas e de outras legendas da base aliada ao governo Lula resistem à nova ofensiva, temendo acirrar confronto com a oposição e dar margem a uma onda de ações também no Senado, onde nenhum processo disciplinar foi aberto até agora após o escândalo do mensalão.

"Não sei se há divergências na bancada, mas não queremos impor posições", afirmou o presidente Ricardo Berzoini. "Vamos discutir com a bancada a representação. Não quer dizer que não haverá."

"Não tem clima para pedir a cassação na bancada. Há muitas divergências dentro e fora do PT", admitiu a secretária de Formação Política do PT, Marlene da Rocha.

Há resistência também no Palácio do Planalto. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), tem dito que se prevalecer a lógica "olho por olho, dente por dente, todo mundo vai sair machucado". A oposição coloca sob suspeita de caixa 2 todas as campanhas feitas pelo PT, pelo menos desde 2002, especialmente depois do depoimento de Duda Mendonça à CPI dos Correios. O publicitário admitiu ter recebido parte de seu pagamento por meio de contas no exterior.

Após 9 horas de reunião, a executiva petista se dividiu sobre como agir no caso de Azeredo. Pelo menos dois integrantes da direção, Jilmar Tatto e Valdemir Garreta, defenderam que o partido acionasse imediatamente o Conselho de Ética do Senado. A resolução aprovada, porém, é cautelosa: "O PT defende que todos os parlamentares, inclusive o ex-presidente nacional do PSDB, Eduardo Azeredo, tenham um tratamento isonômico, ou seja, todos devem ser investigados pelo Conselho de Ética do Congresso. O PT defende que as CPIs se mantenham no objeto de sua convocação, não permitindo a sua manipulação política. O PT tomará todas as medidas para garantir que a Constituição seja cumprida."

À saída da reunião, na sede do PT em São Paulo, alguns dirigentes declararam guerra ao PSDB e ao PFL. Foi o caso do secretário-geral adjunto, Joaquim Soriano. Já Berzoini disse não temer o acirramento da disputa com a oposição. "Não se trata de revide, é uma disputa política", afirmou. "O processo de apuração tem um lado muito forte de influência das eleições de 2006. O PT não queria antecipar esse debate. Quem fez isso foi a oposição. Querem encobrir a administração bem sucedida do Lula."

Para Berzoini, "o clima já está estabelecido, é só ver as acusações sem provas que fazem ao PT". A executiva adiou o encontro nacional, marcado para dezembro, para abril de 2006, quando deverá definir proposta de programa de governo à reeleição de Lula. E prepara novo corte de custos que deve implicar em mais demissões de funcionários do partido. Berzoini negou que o PT esteja sendo pressionado pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares que estaria ameaçando fazer revelações sobre o mensalão. Mas admitiu que o PT pagará os honorários dos advogados de Delúbio.