Título: Crescem protestos contra Bush na Argentina
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2005, Nacional, p. A9

Manifestações nas ruas e pesquisa mostram impopularidade do presidente dos EUA no país anfitrião da 4.ª Cúpula das Américas

Cartazes com os dizeres "Fuera Bush" (Fora Bush) e "Bush go home" (Bush vá para casa), com o rosto do presidente dos Estados Unidos impresso sobre fotos de cadáveres no Iraque e Haiti, estão se espalhando na capital argentina e em Mar del Plata, cidade onde ocorrerá nesta semana a 4ª Cúpula das Américas. A poucos dias do encontro, o que se vê é uma Argentina a cada dia mais anti-Bush. Os argentinos, que há décadas cultivam intenso sentimento contra os EUA, não estão satisfeitos com a visita do presidente George W. Bush, que estará no país entre quinta-feira e sábado. Segundo uma pesquisa realizada pela consultoria OPSM - 57,5% da população não está de acordo com a presença de Bush no país. Só 39,6% dos argentinos concordam.

Já um dos maiores inimigos de Bush na região - o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, também "estrela" da Cúpula das Américas -, possui a simpatia de 75% dos argentinos.

A imagem de Bush piorou durante a crise econômica de 2001 e 2002, quando os EUA nada fizeram para ajudar a Argentina. A invasão ao Iraque, em 2003, piorou ainda mais essa percepção. Para complicar, nos últimos anos degradou-se entre os argentinos a imagem do país mais rico da região como "terra de promissão".

Segundo Enrique Zuleta Puceiro, diretor da OPSM, os argentinos consideram que Chávez, pelo contrário, teve boas atitudes com a Argentina. Por exemplo: socorreu o governo do Néstor Kirchner no ano passado, enviando navios carregados de diesel, para impedir uma crise energética. Além disso, Chávez tornou-se "garoto-propaganda" dos títulos da dívida argentina - nos últimos meses, a Venezuela já adquiriu US$ 600 milhões em bônus.

ALCA

A Área de Livre Comércio das Américas (Alca), um dos principais e mais polêmicos assuntos que serão discutidos durante a Cúpula das Américas, tampouco é do agrado dos argentinos. De acordo com a pesquisa, 58,65% rejeitam a idéia de que a Argentina se esforce em participar dessa área comercial.

"Os argentinos consideram a Alca como uma espécie de política de subordinação aos EUA. O Mercosul faz parte da cultura argentina, mas a Alca é vista com desconfiança", analisa Zuleta Puceiro.

Um relatório do Centro de Economia Internacional (CEI), organismo vinculado à Chancelaria, sustenta que, se a Alca fosse concretizada, a Argentina poderia conseguir oportunidades de exportação de US$ 78 bilhões anuais. Esse volume seria dividido entre US$ 67,7 bilhões, que poderiam ser exportados aos países do Nafta (EUA, Canadá e México), enquanto que os restantes US$ 10,1 bilhões seriam destinados aos mercados dos países da Comunidade Andina (CAN). No ano passado, as exportações totais argentinas chegaram a US$ 34 bilhões.

Ainda segundo o relatório, as oportunidades "fortes" da Argentina concentrariam-se em produtos primários e manufaturas de origem agropecuário e um punhado de manufaturas de origem industrial. Para os produtos industrializados, o mercado seria de US$ 19 bilhões. O relatório foi divulgado justamente quando os negociadores que participarão da Cúpula tentam definir como tratar da Alca na declaração final.