Título: Bush telefona para Lula antes de cúpula
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2005, Nacional, p. A9

Conversa, ontem pela manhã, ocorreu na seqüência de troca de cartas entre os dois presidentes, iniciada pelo brasileiro

Os presidentes dos EUA, George Bush, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, conversaram ontem de manhã por telefone, segundo fontes oficiais da Casa Branca. Elas informaram que Bush fez consultas sobre a posição brasileira nas negociações da rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). A conversa antecipa os contatos que os dois presidentes terão esta semana, primeiro em Mar Del Plata, na 4.ª Cúpula das Américas e, em seguida, na visita de Bush ao Brasil. A conversa telefônica ocorreu na seqüência de uma troca de cartas entre os dois líderes iniciada por Lula. Pouco depois da reunião de cúpula que marcou os 60 anos das Nações Unidas, o presidente brasileiro escreveu a Bush para elogiar o discurso no qual o líder americano reiterou seu compromisso de eliminar todos os subsídios agrícolas nas negociações da Rodada de Doha da Organização Mundial de Comércio. No mês passado, o governo americano fez uma oferta de corte que, embora considerada insuficiente por Brasília, foi elogiada como um passo substantivo pelos negociadores brasileiros.

Fontes da Casa Branca e do Departamento de Estado ficaram mudas ontem sobre as alegações de que a campanha presidencial de Lula teria recebido fundos de Cuba, em 2002. Empenhados em evitar que o assunto se transforme num complicador a mais de uma visita na qual Bush será recebido com protestos em Mar del Plata e que não lhe oferece nenhum benefício político óbvio, os funcionários limitaram-se a dizer que "esse é um assunto interno" do Brasil sobre o qual não cabe aos EUA se pronunciar.

Peter Hakim, presidente do Diálogo Interamericano, disse ao Estado que a visita de Bush a Brasília será a escala mais importante da viagem de Bush, que também inclui uma visita ao Panamá, além da reunião de líderes em Mar del Plata, a partir de sexta-feira. "As conversas de Bush com Lula podem moldar o futuro das relações interamericanas mais do que o que acontecer na cúpula", afirmou ele. Na mesma linha, o colunista Andrés Oppenheimer, do Miami Herald, escreveu ontem: "Há uma preocupação crescente em Washington de que poderemos ver em breve regimes radicais de esquerda na América do Sul e o Brasil, como a maior e mais poderosa democracia na região, será o único país com peso político e econômico suficiente para conter isso."

INICIATIVA

De acordo com o Palácio do Planalto, que levou ontem horas para confirmar o telefonema depois que a Casa Branca divulgou a notícia, a iniciativa partiu de Bush. Outras fontes oficiais brasileiras disseram, no entanto, que Lula havia anteriormente enviado uma mensagem a Bush indicando que aguarda as conversas que ambos terão a partir desta sexta-feira, primeiro em Mar del Plata, na 4.ª Cúpula das Américas, e em Brasília, que o presidente americano visitará no domingo, a convite de seu colega brasileiro.

Funcionários da administração disseram que Bush valoriza sua relação com Lula e a importância do Brasil no hemisfério e é natural que quisesse reatar o diálogo dias antes de se encontrarem. Representantes dos dois países trocaram elogios nas últimas semanas por conta de movimentos que fizeram nas negociações de Doha.