Título: Dirigente do Ibama é multado em R$ 1 milhão
Autor: Nilton Salina
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/10/2005, Nacional, p. A17

O coordenador de Fiscalização de Desmatamento e Queimada do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Rondônia, Walmir de Jesus, ex-militante do Movimento dos Sem-Terra (MST), foi denunciado ontem pela polícia por estelionato e apropriação indébita de madeira. A fiscalização ainda fixou multa de mais de R$ 1 milhão. Walmir é acusado de facilitar a retirada irregular de 16 mil metros cúbicos de madeira nobre - o equivalente a cerca de 8 mil árvores, como maçaranduba, ipê e jatobá - de uma reserva florestal do Estado, onde está localizado o assentamento Margarida Alves. Ele teria permitido, ainda, que o local fosse alugado para fazendeiros como pasto. A área está em Mirante da Serra, a cerca de 410 quilômetros de Porto Velho.

A polícia apurou que Walmir teria intermediado a assinatura de um contrato entre a madeireira Alves e a Associação Estadual de Cooperação Agrícola (Aeca), dirigida pelo movimento sem-terra, que se intitulou responsável pela área.

Segundo o contrato, a extração irregular de madeira e o aluguel da área teriam rendido R$ 271 mil, mas, como a área derrubada é cinco vezes maior do que o declarado, o montante pode ser bem maior. Está sendo investigado se o dinheiro foi usado para financiar invasões de terra no Brasil.

DEVASTAÇÃO

No assentamento residem 258 famílias, que não são beneficiadas pelo corte da madeira. A área total mede 6 mil hectares, dos quais a metade deveria permanecer intacta.

O trecho de preservação derrubado é de 400 hectares, que corresponde a quase 500 campos de futebol. No local, a Secretaria de Desenvolvimento Ambiental de Rondônia (Sedam) apreendeu 700 bois, que estão assoreando as nascentes dos Rios São Domingos, Branco e Mandi. Os animais transformam os leitos em lamaçais.

"O ideal seria tirar os animais de lá imediatamente, mas não temos onde colocá-los. Eles estão estragando ainda mais a área que deveria ter sido mantida intacta", disse o secretário da Sedam, Augustinho Pastore. Ele explicou que a investigação foi iniciada em conjunto com a polícia, por determinação do Ministério Público.

O MP recebeu a denúncia de quatro assentados, há cerca de um ano. Eles diziam ter sido expulsos do local pelo coordenador de Fiscalização do Ibama, alegando que Walmir mandara queimar seus barracos. Depois disso, segundo denunciaram, ele teria permitido que árvores fossem retiradas irregularmente da reserva.