Título: Poderoso 'Motoneta' é escritor
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/10/2005, Internacional, p. A24

Lewis Libby, apelidado de Scooter, era até ontem o chefe de gabinete do vice-presidente dos EUA, Dick Cheney. Considerado o cérebro de seu ex-chefe, era tão discreto quanto influente. Associado ao movimento neoconservador, foi aluno e protegido de Paul Wolfowitz, o ex-número dois do Pentágono e atual presidente do Banco Mundial. Com 55 anos, Libby tem uma aparência elegante e formou-se em faculdades de elite. Adquiriu o apelido no dia em que seu pai o viu engatinhando com toda a energia em seu berço e brincou "Ele é uma motoneta (scooter)"! Libby já disse que adora o apelido. "Há uma tendência em Washington de as pessoas se levarem um pouco a sério demais e fica mais difícil se levar muito a sério se seu nome é Motoneta". O apelido só o atrapalhou uma vez , conta ele. "Houve uma garota num bar na Filadélfia que não aceitou sair com um cara chamado Motoneta. Ao menos, é a isso que atribuo o meu fracasso".

A esquerda americana acredita que ele esteve no centro de "todos os escândalos do governo vinculados à segurança nacional - no fracasso do serviço de inteligência no Iraque, nas reuniões secretas sobre a concessão de contratos a Halliburton no Iraque e no vazamento de informações para a imprensa sobre a identidade de uma agente da CIA.

Para o jornalista Bob Woodward, do Washington Post , "Lewis Libby fazia parte de uma categoria especial entre os funcionários de Washington - o espírito onipresente que sempre está sempre nos bastidores". Também é conhecido por manter contatos discretos com alguns jornalistas, para os quais constitui uma preciosa fonte anônima.

Em 2003, foi ele quem preparou uma sinopse sobre o arsenal iraquiano para Colin Powell, então secretário de Estado, antes de este pronunciar um discurso no Conselho de Segurança da ONU. Em 1992, Libby já deixara inscrita a sua visão conservadora do mundo no documento estratégico dos EUA, que veio à luz pela primeira vez depois da queda do império soviético. Este documento "explica que os EUA deviam 'impedir que qualquer potência hostil domine uma região essencial para nossos interesses".

Depois de chegar a Washington na década de 80, alternou entre a prática da advocacia e empregos no governo. Defendeu, entre outros, o controvertido banqueiro Marc Rich, próximo dos democratas.

Apaixonado por esqui, dedicou-se também à literatura. Escreveu um romance 'O Aprendiz', cujo cenário é um povoado isolado no Japão de 1903. O suplemento literário do The New York Times elogiou sua "prosa delicada e trechos descritivos comoventes".