Título: Irã insiste em pedir destruição de Israel
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/10/2005, Internacional, p. A29

O presidente do Irã, Mahmud Ahmedinejad, não só participou ontem de uma manifestação de cerca de 200 mil pessoas, em Teerã, contra os EUA e Israel, como ainda reiterou sua declaração de que Israel "deve ser varrido do mapa". Frase idêntica de Ahmedinejad, dita na quarta-feira numa conferência contra o sionismo, também na capital, provocou protestos de vários países e levou Israel a pedir a exclusão do Irã da ONU. Ontem, o governo israelense informou que solicitaria uma sessão de emergência do Conselho de Segurança da ONU. Depois, o CS emitiu uma condenação das declarações de Ahmedinejad e o embaixador israelense na ONU, Dan Gillerman, se mostrou satisfeito. "Esperamos que esta mensagem seja escutada bem alto e claramente em Teerã", disse Gillerman.

Em Washington, a Câmara dos Representantes aprovou moção de condenação ao líder iraniano e pediu sanções fortes contra o Irã, com o qual os EUA não têm relações diplomáticas.

A manifestação em Teerã era parte de um evento anual chamado Dia de Jerusalém, organizado pelos ultraconservadores na última sexta-feira do Ramadã, o mês mais sagrado dos muçulmanos. Mais de 1 milhão de pessoas saíram às ruas de todo o país, nos cálculos da Associated Press, para expressar apoio ao presidente e pedir a "libertação de Jerusalém".

Trata-se de uma marcha criada após a revolução de 1979, que levou ao poder o clero xiita ultraconservador. Como acontece todo ano nesses eventos, os manifestantes demonstram solidariedade à causa palestina queimando bandeiras americanas e israelenses e gritando slogans como "Morte aos EUA" e "Morte a Israel". A multidão acusava o Ocidente de oprimir o Irã e os muçulmanos. Alguns iam vestidos de "homens-bomba", com falsos cinturões de explosivos - numa alusão aos extremistas palestinos - e se diziam "prontos para o martírio".

Também houve marchas no Líbano (de 6 mil pessoas, organizada pelo grupo Hezbollah) e Bahrein (30 mil). Ambos têm numerosa população xiita.

Desde a revolução, o Irã prega a destruição de Israel. No entanto, nos oito anos da presidência do reformista Mohamad Khatami, as manifestações do Dia de Jerusalém não reuniam tanta gente nem eram entusiasticamente apoiadas pelo governo. Assessores de Khatami deixavam claro que o Irã poderia não se opor à solução de dois Estados (Israel e Palestina) se esse fosse o desejo dos palestinos.

Mas Ahmedinejad, que substituiu Khatami no cargo, em agosto, é um linha-dura, partidário da interpretação mais radical do islamismo xiita no Irã. Ontem ele fez uma curta caminhada no meio da multidão e voltou a dizer que o mundo islâmico não pode tolerar um Estado judeu no seu meio. "Minhas palavras são as palavras da nação iraniana", disse Ahmedinejad à agência oficial de notícias Irna, quando indagado sobre que mensagem teria para o mundo. "Os ocidentais são livres para fazer seus comentários, mas as reações deles não têm validade. Eles pensam que são os governantes absolutos do mundo."

Chamada na quinta-feira pelo governo russo a dar explicações, a embaixada iraniana em Moscou tentou ontem suavizar a declaração do presidente. "O sr. Ahmedinejad não teve intenção de falar abertamente em termos duros e iniciar um conflito", assinalou um comunicado, na primeira reação oficial do país à indignação mundial. "É absolutamente claro que, em seus comentários, o sr. Ahmadinejad sublinhou a posição-chave do Irã, baseada na necessidade de realização de eleições livres nos territórios ocupados."

Horas depois, no entanto, o próprio presidente aparecia na manifestação de Teerã, repetindo a frase sobre Israel, dita originalmente pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, fundador da república islâmica.

Em Ramallah, o negociador-chefe palestino Saeb Erekat - que normalmente fala em nome do governo - rejeitou os comentários de Ahmedinejad e afirmou que a Autoridade Palestina reconhece o direito de Israel existir . "O que nós temos de conversar é sobre adicionar o estado Palestino no mapa e não varrer Israel do mapa", disse Erekat.