Título: Investimento é o menor em dez anos
Autor: Fabio Graner e Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/10/2005, Economia & Negócios, p. B1

A entrada de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) em setembro foi a menor desde março de 1995. Conforme dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC), o saldo de investimentos foi de apenas US$ 43 milhões, bem abaixo dos US$ 646 milhões que entraram no País no mesmo mês do ano passado e da expectativa de US$ 300 milhões, do próprio BC. No ano, o IED atingiu US$ 11,8 bilhões, o equivalente a 2,03% do Produto Interno Bruto (PIB) do País. O valor é menor do que os US$ 12,4 bilhões que ingressaram no Brasil entre janeiro e setembro do ano passado e que correspondiam a 2,75% do PIB. Nos 12 meses que terminaram em setembro, o saldo de investimentos diretos ficou em 17,6 bilhões, ou 2,40% do PIB.

O chefe do Departamento Econômico (Depec) do BC, Altamir Lopes, disse que a redução nos investimentos estrangeiros no mês passado foi pontual, motivado por uma concentração, já prevista para este mês, de vendas de participações societárias de estrangeiros em empresas que estão no Brasil. Ou seja, um investidor estrangeiro era sócio de uma companhia brasileira e vendeu sua parte para um brasileiro. Essa venda - o BC não revelou os envolvidos no negócio - é contabilizada como saída de investimentos do País, que em setembro somaram US$ 901 milhões.

"Eram operações programadas há muito, que já estavam em andamento. Os investimentos não deixaram de existir, apenas mudaram de mãos em um movimento de nacionalização do capital", explicou Lopes. Em Paris, o presidente do BC, Henrique Meirelles, limitou-se a comentar que os resultados "estão dentro do ciclo normal."

As duas maiores saídas de capital ocorreram em decorrência da venda de participações estrangeira para bancos nacionais, que somaram US$ 290 milhões. Além disso, um investidor externo vendeu sua participação numa empresa brasileira e com o dinheiro comprou ações no próprio Brasil, em uma operação de US$ 230 milhões. O outro movimento importante, de acordo com o chefe do Depec, foi a venda do controle de uma empresa do setor petroquímico para uma empresa nacional, cujo valor foi de US$ 250 milhões. Mas os investimentos ficaram tão abaixo da expectativa do BC para setembro "porque alguns ingressos de investimentos que esperávamos não se concretizaram", explicou Lopes.

Em outubro, a entrada de investimentos estrangeiros no País já melhorou. Até dia 24, somavam US$ 600 milhões e o BC prevê que eles fiquem em US$ 800 milhões no mês.

O BC manteve a projeção de IED para o ano em US$ 16 bilhões, o que significa que o País terá de receber, em novembro e dezembro, US$ 1,7 bilhão por mês em investimentos estrangeiros. Este valor é US$ 400 milhões maior do que a média mensal do ano até agora, de US$ 1,3 bilhão. "Em novembro e dezembro tradicionalmente há um aumento na entrada de investimentos diretos", comentou Lopes.