Título: Saldo em conta corrente é recorde
Autor: Fabio Graner e Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/10/2005, Economia & Negócios, p. B4

O Brasil teve, em setembro, um saldo positivo de US$ 2,38 bilhões no conjunto de todas as suas transações comerciais e de serviços com o exterior. É o melhor resultado em um mês de setembro desde o início da série do Banco Central (BC), em 1947. O bom desempenho foi puxado pela balança comercial, que registrou um superávit de US$ 4,33 bilhões, fortalecendo o ingresso de divisas externas no País. Por outro lado, o Brasil teve despesas de US$ 915 milhões com o pagamento de juros e as empresas remeteram US$ 644 milhões a título de lucros e dividendos para as matrizes no exterior. A conta de transações correntes mostra a capacidade de o País conseguir dólares para sua economia.

De janeiro a setembro deste ano, o superávit na conta de transações correntes do País atingiu a marca de US$ 11,1 bilhões. Esse valor corresponde a 1,91% do Produto Interno Bruto (PIB) do País. Em igual período de 2004, o saldo foi de US$ 9,7 bilhões positivos e representava 2,16% de toda a produção nacional.

"Os resultados apresentados são positivos e têm permitido que o País acumule reservas internacionais e reduza substancialmente o endividamento externo", observou o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes. Segundo ele, esse movimento ajuda a melhorar os indicadores que servem de base para os analistas medirem a capacidade do País de pagar suas dívidas.

O resultado positivo das contas externas também torna o País menos vulnerável à qualquer problema no cenário econômico internacional.

Nos últimos 12 meses encerrados em setembro, o superávit em conta corrente alcançou os US$ 13,1 bilhões, ou 1,78% do PIB. A projeção para este ano é de que essa conta tenha saldo positivo de US$ 9,4 bilhões.

Isso significa que nos últimos dois meses do ano essa conta deve apresentar saldo negativo, já que, segundo Lopes, em outubro ainda deve haver um superávit de US$ 800 milhões. Para 2006, o BC aumentou sua projeção para a conta corrente, que passou de um saldo positivo de US$ 500 milhões para US$ 700 milhões.

DÍVIDA

Com as compras de dólares feitas pelo BC neste mês, as reservas internacionais líquidas (sem contar os recursos do Fundo Monetário Internacional, FMI) aumentarem dos US$ 42,950 bilhões de setembro para US$ 45,810 bilhões no último dia 27.

O valor, de acordo com Altamir Lopes, já é o maior desde os US$ 66,892 bilhões de agosto de 1998, quando a política cambial ainda não havia mudado e as reservas precisavam ser grandes para sustentar a equivalência do real com o dólar.

O BC estima, considerando as compras feitas este mês, que ao final do ano as reservas líquidas poderão ser superiores a US$ 46 bilhões. O BC registrou, ao mesmo tempo, uma queda de US$ 19,766 bilhões na dívida externa brasileira no período de janeiro a julho deste ano.

"Com o dólar baixo, as empresas estão aproveitando o momento para quitar suas dívidas fora do País", disse Lopes. O valor do endividamento externo, em consequência, variou dos US$ 201,374 bilhões do fim de 2004 para US$ 181,608 bilhões. "Esse é o menor valor de dívida desde dezembro de 1996, quando estava em US$ 173 bilhões", comentou.

Com isso, indicadores de endividamento externo como a relação reservas/dívida apresentaram sensível melhora neste ano. As reservas, em junho, já correspondiam a 31,3% da dívida externa. No fim do ano passado, esse porcentual ainda estava em 26,3%. A melhora tem ajudado o País a ter uma avaliação de risco de crédito no mercado financeiro internacional mais favorável.