Título: Sondagem da CNI mostra onda de pessimismo
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/10/2005, Economia & Negócios, p. B8

Com a valorização do câmbio, os juros altos e a redução da demanda, o nível de atividade industrial no terceiro trimestre do ano se manteve estável em relação ao segundo trimestre. Este cenário provocou uma onda de pessimismo entre os empresários, que já admitem uma queda nas exportações e no nível de emprego nos próximos seis meses. A avaliação está na Sondagem Industrial divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). "O Natal é um ponto que surpreende. Pode crescer mais do que o esperado, mas isso não irá se traduzir em forte recuperação da indústria", afirmou o coordenador da Unidade de Pesquisa da entidade, Renato da Fonseca.

Considerando-se os efeitos sazonais, o terceiro trimestre costuma apresentar nível de atividade maior que o segundo. A CNI, no entanto, apurou que o nível de utilização da capacidade instalada, a produção e o faturamento mantiveram-se no mesmo nível, resultando na queda do emprego no setor.

Segundo a CNI, a demanda por produtos vem sendo deprimida pela valorização do real e pelas altas taxas de juros. Esses dois itens surgem como o segundo e o terceiro maiores problemas das grandes empresas, atrás apenas da carga tributária. Para as pequenas e médias, onde a perda de dinamismo foi maior, a queda na demanda é atribuída ao acirramento da competição (inclusive com as importações) e à redução no ritmo do crédito consignado.

O índice geral que mede as expectativas para a economia brasileira nos próximos seis meses mostrou empresários otimistas ao subir de 48,5 pontos para 52 pontos. A variação é de zero a cem pontos e valores abaixo de 50 pontos indicam expectativa negativa. No entanto, quando são questionados pontos específicos, evidenciam um certo ceticismo em relação ao comportamento da economia.

Pelo segundo trimestre seguido, os empresários esperam queda nas exportações, fato inédito na série histórica iniciada em 1998. O indicador ficou em 45,1 pontos, o menor já registrado. O resultado também é mais homogêneo. Na última sondagem, 8 setores entre 17 pesquisados esperavam exportações menores. Na pesquisa atual, o número subiu para 14 setores.

A sondagem também revela que os empresários esperam novas perdas de empregos nos próximos seis meses. O índice caiu pela quinta vez consecutiva. As empresas também não prevêem aumento de compras de matérias-primas. O indicador recuou de 52,4 pontos para 50,5 pontos, o menor desde outubro de 2001, e a quinta desaceleração seguida.