Título: Proposta é considerada insatisfatória e insuficiente
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/10/2005, Economia & Negócios, p. B18

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, declarou ontem que a nova proposta da União Européia (UE) sobre abertura do comércio agrícola é insatisfatória e insuficiente para estimular as negociações sobre os outros setores que estão na agenda da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) - em especial, a abertura nas áreas industrial e de serviços. A proposta foi apresentada ontem em teleconferência entre os ministros da UE, dos Estados Unidos, da Índia, da Austrália e do Brasil. Segundo Amorim, nenhum dos presentes aceitou a proposta européia, na lógica do 'pegar ou largar'.

"Eu assumo o risco de dizer que a pressão continua sobre a União Européia, para que melhore sua proposta. Todos concordaram com isso", declarou Amorim, que ainda mantém expectativas de que o bloco europeu poderá rever sua proposta agrícola e, assim, destravar as negociações da Rodada. "O passo dado é um avanço, em relação ao anterior, mas não é suficiente para gerar uma negociação efetiva dos outros setores. O fato positivo é que essa proposta não dividiu os participantes. Ninguém concordou com ela", completou.

Novas reuniões já foram marcadas pelos ministros presentes à teleconferência para tentar contornar o impasse. Mas, desta vez, não foi definido um prazo para Bruxelas apresentar uma proposta melhor. A nova teleconferência está marcada para dia 2. No dia 7, os ministros dos EUA, UE, Brasil e Índia se reunirão em local ainda não definido.

Entre os dias 8 e 9, em Genebra, haverá um encontro ampliado. Conforme alertou Amorim, o tempo está se esgotando, e todos os participantes desses esforços - especialmente a UE - estão cientes desse fato.

"Estamos nos 38 minutos do segundo tempo e com placar ainda indefinido. A diferença é que, ao contrário do futebol, na Rodada Doha todos podem ganhar", insistiu o chanceler.

A rigor, esses principais atores da OMC pretendem chegar à conferência ministerial da organização em Hong Kong, entre os dias 9 e 13 de dezembro, com as posições básicas já acertadas sobre os diferentes temas em discussão. Essa tarefa é considerada essencial para que a Rodada possa entrar na fase final de barganhas entre seus 148 sócios em 2006 e ser concluída, no máximo, até meados de 2007. O fracasso em Hong Kong desmontaria esse cronograma e tenderia a provocar recuos nos compromissos já expressos.

O imbróglio continua assentado na proposta de abertura do mercado agrícola apresentada pelos europeus. Anteriormente, Bruxelas propôs um corte médio nas tarifas de importação de 24% - considerado inaceitável. Ontem, subiu esse porcentual para 47%.

Técnicos do Brasil, dos EUA e da Austrália, separadamente, fizeram o cálculo do quanto isso significaria em redução média de tarifas, se fosse tomado item por item do setor agrícola. O resultado das três equipes foi o mesmo: o corte real seria de 39%. O porcentual é somente um pouco maior que o corte de 36% definido pelos sócios da OMC na Rodada Uruguai, concluída em 1994. "É muito modesto", resumiu Amorim.