Título: País terá energia ao menos até 2009, diz MME
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/10/2005, Economia & Negócios, p. B3

A oferta a partir de 2010 dependerá o sucesso dos leilões que deverão ser realizados ainda este ano

BRASÍLIA - O abastecimento de energia elétrica do País está garantido até 2009, mas o suprimento a partir de 2010 depende do sucesso de leilões que serão realizados ainda este ano. Munido de números, o secretário de Energia do Ministério de Minas e Energia (MME), Ronaldo Schuck, rebateu as previsões do setor privado de que há risco de um "apagão" em 2009. Segundo o secretário, ao longo dos próximos cinco anos o sistema elétrico receberá 13 mil megawatts adicionais. Até o final de 2007, entrarão em funcionamento 7.491 quilômetros de novas linhas de transmissão.

Somado a isso, o Brasil dispõe atualmente de uma sobra de 7 mil megawatts de energia. De acordo com dados do Ministério, o consumo energético está em cerca de 49 mil MW médios, abaixo da produção, que é de 56 mil MW médios. Com a previsão de aumento do gasto de energia de 5% ao ano, considerando uma projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 4% em média, seria necessária uma entrada anual de 2.500 MW de energia nova.

Pelas previsões do Ministério, no próximo ano, já está assegurada a entrada de 5.345 MW, seguidos de 2.976 MW em 2007, 816 MW em 2008 e 869 MW em 2009. "Até 2009 está plenamente atendido, mesmo que entrem 800 MW, com a sobras vamos preenchendo esse atendimento", afirmou.

Para garantir o abastecimento a partir de 2010, no entanto, o governo terá de contar com a energia que será produzida por usinas que ainda serão leiloadas no fim do ano, com previsão para entrarem em operação no prazo de cinco anos. Das 17 hidrelétricas previstas inicialmente, apenas cinco têm licença ambiental. "Em 2010 há a necessidade de entrada de novos projetos e aí o leilão de novas hidrelétricas preencherá essa lacuna", admitiu. Ele não informou quantas usinas entrarão no leilão, mas disse que muitas estão em via de conseguir as licenças. Schuck explicou que no leilão do fim do ano também serão ofertadas usinas com prazo de implantação menor, de três anos, a maioria termelétrica.

A entrada em operação de novas linhas de transmissão no sistema elétrico é considerada pelo secretário como um grande reforço. "Algumas dessas linhas fazem papel de verdadeiras usinas", afirmou. Ele citou como exemplo a linha Londrina-Assis-Araraquara, que será inaugurada neste mês, ligando São Paulo ao Paraná. O que vai aumentar de 4 mil MW para 5 mil MW o intercâmbio de energia entre as duas regiões. Em 2006, entra em operação a linha Colina-Sobradinho, que permitirá a troca de 1 mil MW de energia entre as regiões Norte e Nordeste. "São linhas simbólicas", afirmou.

A boa situação dos reservatórios que abastecem as hidrelétricas também é apresentada pelo governo como uma garantia de abastecimento pelo menos até 2007. Em 2004, 90% da energia consumida no País foram produzidos por usinas hidrelétricas. "Ter reservatório cheio garante segurança e preço mais baixo", afirmou. Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, os reservatórios estão com 62% da capacidade, bem acima do limite de risco 25%.

Schuck discordou da afirmação feita nesta semana pelo diretor da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Eduardo Spalding, de que nos últimos anos não houve nenhuma usina entrando em operação. "É uma informação furada", disse. Segundo ele, em 2003, 4.022 MW de usinas novas entraram no mercado e em 2004 foram 4.228 MW. Essas usinas foram licitadas no governo passado e o primeiro leilão de energia nova, seguindo as regras do atual modelo, realizado neste ano.

Outra crítica de especialistas do setor é quanto ao fornecimento de gás para termelétricas, considerado por eles insuficiente. O secretário disse que é um problema momentâneo e que está sendo resolvido pela Petrobrás.