Título: Financeiras ficam mais rigorosas
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2005, Economia & Negócios, p. B1

As lojas e administradoras de crediários estão mais rigorosas na concessão de crédito para se resguardar do risco da inadimplência dos clientes que já assumiram financiamentos consignados. Desde abril, a Servloj passou a consultar no site da Previdência para verificar se o aposentado tomou crédito consignado, conta o diretor da administradora de crediários, Oswaldo Freitas Queiroz. Ele explica que, como o limite de endividamento permitido no crédito consignado é alto, isto é, 30% da renda mensal para o pagamento das parcelas, se o cliente está próximo desse limite porque assumiu crédito consignado, a sua empresa reduz a oferta de financiamento.

Queiroz argumenta que outro fator reforçou a necessidade de aumentar as restrições. ¿Notamos nas nossas ações de cobrança que esses clientes não podem pagar porque os prazos desses empréstimos são muito longos e grande parte dos tomadores recebe entre um e dois salário mínimos (de R$ 300 a R$ 600).¿

O diretor de uma rede varejista faz coro com Queiroz e conta que, desde meados deste ano, reforçou a cautela na hora de aprovar a venda financiada para quem tem mais de 55 anos de idade, reduzindo os limites de endividamento. ¿Perguntamos se o produto é para ele ou para um terceiro. Neste último caso, aumentam as chances de inadimplência¿, diz o diretor da rede.

Ele ressalta que boa parte dos aposentados não trabalha e, portanto, não dispõe de uma fonte extra de rendimentos, caso tenha comprometido 30% da sua renda com empréstimo consignado.

¿Calibramos as nossas ferramentas de concessão de crédito¿, afirma o diretor de Cartão de Crédito das Lojas Riachuelo, José Antonio Rodrigues. Ele identificou o aumento da inadimplência neste ano dos clientes que levantaram empréstimos consignados entre os trabalhadores jovens, com 18 a 25 anos de idade. Por isso, passou a incluir a pergunta se o trabalhador assumiu um financiamento desse tipo nos últimos tempos entre os quesitos para a aprovação do financiamento. ¿Estamos mais restritivos quanto aos limites de endividamento¿, admite o diretor.

ACOMODAÇÃO

Ao mesmo tempo que as administradoras de crediários e as lojas acenderam o sinal de alerta em relação à clientela que usa o crédito consignado, a própria evolução dos volumes emprestados nessa modalidade de financiamento dá sinais de desaceleração. ¿Acho que o crédito consignado se acomodou¿, afirma o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira.

Até maio deste ano, a taxa mensal de crescimento do crédito consignado variava de 7% a 10% ante o mês anterior. A partir de junho, começou a desacelerar e fechou setembro com crescimento de 2,85% ante agosto, porém, num ritmo de alta superior ao crédito total concedido às pessoas físicas, que aumentou 2,47% no último mês.

Para Ribeiro de Oliveira, a menor intensidade de crescimento do crédito consignado não significa que ele tenha esgotado o seu potencial. Mas ele atribui esse movimento, em parte, às mudanças de regras da Previdência, que reduziu os prazos máximos dos financiamentos de 60 para 36 meses e proibiu a provação de empréstimos por telefone.

Além disso, o presidente da Anefac acredita que os bancos ficaram mais cautelosos no crédito consignado depois que houve dois questionamentos jurídicos . Um deles sobre a impenhorabilidade do salário e o outro argumentando que o consumidor tem de ter o direito de pagar ou não o empréstimo, o que não é possível quando o desconto é na folha de pagamento.