Título: `Empréstimo me apertou muito¿, diz aposentada
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2005, Economia & Negócios, p. B1

A aposentada Jane J. Nunes, de 70 anos, e o trabalhador da Prefeitura José Tailde da Silva, de 60 anos, assumiram empréstimos consignados. Na sexta-feira, os dois estavam na fila do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) para checar como estava a dívida em atraso fora dos financiamentos consignados. Jane, por exemplo, há um ano pegou um empréstimo consignado de R$ 8 mil a um custo mensal de 1,7% ao mês. A intenção foi ajudar um dos sobrinhos que estava investindo num novo negócio, contou. ¿Mas esse empréstimo me apertou muito¿, reclamou. De uma aposentadoria mensal de R$ 1,4 mil, passou a receber somente R$ 1 mil, já descontada a parcela do financiamento.

Com a renda da aposentadoria reduzida, as outras dívidas foram se acumulando. E o pior: os negócios do sobrinho não foram para frente e o dinheiro do empréstimo consignado não lhe foi devolvido. Com isso, Jane soma dívidas de cerca de R$ 6 mil, fora do financiamento consignado. ¿É a prestação da casa própria, do carro, entre outras, que estão em atraso.¿

Já Silva, que é trabalhador ativo, contou que fez dois empréstimos consignados para terminar a reforma da casa. Ele ganha R$ 1,2 mil, mas, na prática, recebe líquido R$ 820 por causa dos dois empréstimos. ¿Como tive problemas de saúde, não pude mais fazer bicos para completar a renda¿, contou o funcionário da Prefeitura. Com isso, as dívidas com despesas do dia-a-dia, como alimentação entre outras, cresceram e hoje ele acumula débitos em atraso de cerca de R$ 3 mil. ¿Pretendo liquidar essas pendências com recursos dos precatórios que tenho direito¿, disse. Nas suas contas, ele tem a haver cerca de R$ 16 mil. ¿O 13º salário não dá nem para começar a pagar essa dívida.¿

Para o assessor econômico da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, Fábio Pina, usar o crédito consignado para despesas correntes é um tiro no pé. Num primeiro momento, representa um certo alívio, mas no médio prazo gera comprometimento da receita futura. ¿Pode ser um cheque especial com outro nome.¿