Título: Dresden reabre igreja após 60 anos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 31/10/2005, Internacional, p. A15

Símbolo dos pesados bombardeios contra a cidade na 2.ª Guerra, templo barroco foi novamente consagrado ontem

DRESDEN, ALEMANHA - Sessenta anos depois de se tornar o símbolo dos mais violentos bombardeios da 2ª Guerra, a Igreja de Nossa Senhora, ou Frauenkirche, de Dresden, foi novamente consagrada e reaberta ontem. A reconstrução da igreja protestante luterana de arquitetura barroca foi financiada por doações vindas de várias partes do mundo e representa o esforço de renascimento do leste da Alemanha. A cerimônia de consagração teve início com o soar de 450 trombones. "Todos devem ouvir a mensagem que, através da beleza e da força deste lugar, é enviada ao mundo todo", disse o bispo evangélico da Saxônia, Jochen Bohl, em seu sermão.

Ante um auditório do qual faziam parte o presidente alemão, Horst Koehler, o chanceler em fim de mandato, Gerhard Schroeder, e sua sucessora, Angela Merkel, Bohl comparou o trabalho de reconstrução da Frauenkirche com a parábola do grão de mostarda da Bíblia, afirmando que "de algo aparentemente pequeno e insignificante surgiu algo grande".

Nos últimos 15 anos, segundo Bohl, cresceu, em torno da Frauenkirche, uma "comunidade mundial que se deixou levar pela esperança de que a reconciliação deve ser representada por atos concretos".

A reconstrução custou cerca de 180 milhões de euros, dos quais cerca de dois terços vieram de doações. Mais de 1 milhão veio da Grã-Bretanha, um dos países que participaram dos bombardeios que destruíram Dresden. Um primo da rainha Elizabeth II representou a Grã-Bretanha na cerimônia. Além dele, os embaixadores das grandes potências aliadas que combateram a Alemanha nazista na 2ª Guerra também assistiram à cerimônia.

A Frauenkirche manteve-se em pé após os bombardeios que arrasaram Dresden em 13 e 14 de fevereiro de 1945. Mas, um dia depois, o edifício desabou em conseqüência dos ataques. Após o desmoronamento, os habitantes da cidade começaram a recolher os escombros para a reconstrução, mas acabaram abandonando a tarefa.

Durante a vigência da extinta Alemanha Oriental, as ruínas da igreja foram mantidas como estavam. Era um alerta para a destruição que uma guerra pode provocar. Após a reunificação da Alemanha, em 1990, uma iniciativa, que terminou se convertendo em uma fundação e à qual se somaram muitos pacifistas, começou a colher fundos para a reconstrução. Os trabalhos começaram em 1994 e contaram com parte do material original. Inicialmente, algumas vozes se levantaram contra a idéia de reconstruir a igreja, incluindo a de muitos religiosos para os quais as ruínas deveriam ser mantidas como um monumento, a exemplo da emblemática Gedaechtniskirche de Berlim. Muitos, no entanto, acabaram mudando de opinião depois de constatar que o local poderia converter-se em uma espécie de lugar de peregrinação de membros da extrema direita.