Título: Esquerda brasileira fará protesto no DF
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2005, Nacional, p. A12

A União da Juventude Socialista (UJS) ¿ com apoio da UNE, da UBES, do MST, da CUT e de ONGs partidárias da esquerda ¿ prepara uma série de atos de protesto por ocasião da visita do presidente americano, George W. Bush, ao Brasil, no próximo fim de semana. Wadson Ribeiro, presidente da UJS, adiantou que a primeira ação será realizada na fronteira entre o Mato Grosso de Sul e o Paraguai, país vizinho que também será visitado por Bush. O objetivo da passeata é chamar a atenção do público para a influência crescente dos EUA na América do Sul.

Recentemente, o governo americano recebeu sinal verde para a instalação de uma base militar no Paraguai. ¿Somos contra o modo de atuação dos EUA no mundo todo, e essa será a melhor oportunidade de expressarmos isso¿, declarou Ribeiro. O foco dos manifestantes, contudo, é Bush, que se encontrará com o presidente Lula. Para a capital federal, a entidade imagina um protesto com ¿criatividade e humor¿. Ribeiro acredita que cerca de 3 mil manifestantes participarão dos atos. ¿Queremos usar grandes bonecos, cartazes bem-humorados; pretendemos lembrar a manifestação de 60.¿ No início da década de 60, o então presidente americano, Dwight Eisenhower, conheceu Brasília a convite de Juscelino Kubitschek, que dava continuidade a seu projeto de abertura econômica internacional. Durante aquela visita, manifestantes carregaram cartazes com os dizeres ¿Go Home¿ (vá para casa). Meses após o encontro de ambos, o Brasil receberia vultoso empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI).

¿A questão não é a de os Estados Unidos serem um país inimigo. Mas sim a maneira como eles, por meio do presidente que têm, encaram o restante do mundo. Somos contra a guerra no Iraque; somos contra as bases militares na América do Sul; somos contra essa soberania econômica e social imposta de lá pra cá¿, argumentou.

VENEZUELA

O presidente da UJS disse ter percebido essa posição contrária à política externa americana como ¿consenso¿ internacional no fórum social realizado em Caracas, Venezuela. ¿Gente de todo os lugares, não só as centenas de brasileiros, expressou a mesma preocupação¿, contou. Sobre o presidente venezuelano, Hugo Chávez, declarado inimigo político de Bush, Ribeiro recua em sua análise: ¿Não posso dizer o que penso sobre posicionamento de Chávez. São dois países diferentes. Acho que ele tenta fazer o melhor para a Venezuela, mas é impossível dizer como ele agiria se fosse presidente do Brasil.¿

Justamente por se tratar de realidades diferentes (Brasil e Venezuela), Ribeiro acredita que Lula tem o justo papel de receber Bush para incrementar as relações bilaterais. Contudo, adverte: ¿Isso não significa dizer que temos de aceitar imposições ou corroborar com a política deles (EUA). Não podemos nos afastar daquilo que é objetivo e benéfico para nosso País.¿

Ribeiro ainda acredita que Bush terá dificuldades na reunião de Cúpula de Mar del Plata, na Argentina. ¿A agenda dele (Bush) se recusa a eliminar os subsídios agrícolas que penalizam a região, e isso será um tema recorrente¿, concluiu.