Título: Maluf pode ter comprado imóvel de US$ 2,4 milhões
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2005, Nacional, p. A13

A conta Chanani, atribuída ao ex-prefeito Paulo Maluf, pode ter sido usada para aquisição de um imóvel no valor de US$ 2,44 milhões nos Estados Unidos. A operação está sob investigação do Ministério Público, que examina exaustivamente milhares de extratos bancários da Chanani enviados ao Brasil pela Promotoria Distrital de Manhattan.

O Ministério Público não descarta a hipótese de que a compra tenha sido feita pelo doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi, controlador e titular da conta que movimentou US$ 161 milhões. Birigüi também é réu na ação penal aberta contra o ex-prefeito, formalmente denunciado pela Procuradoria da República por crime contra o sistema financeiro (evasão fiscal), lavagem de dinheiro, corrupção e formação de quadrilha.

O doleiro poderá ser excluído do processo ou ser contemplado com redução de pena porque tem sido importante colaborador na investigação sobre Maluf. O Ministério Público Federal pediu o benefício da delação premiada para Birigüi.

Os papéis bancários revelam que pelo menos 10 transferências da Chanani, no Safra National Bank, foram feitas a crédito da Allen & Clark Real State, empresa do mercado imobiliário situada em Nova York. O dinheiro caiu na conta YR 159506-000, da Allen & Clark, no Swiss Bank NY.

Cinco repasses, que somam US$ 2,44 milhões, foram efetuados em 1998 e indicam, na avaliação do Ministério Público, uma compra parcelada. A primeira saída, a de maior valor ¿ US$ 1,32 milhão ¿, foi lançada em 23 de abril daquele ano. No mês seguinte, em apenas 3 dias (13, 14 e 15), foram transferidos US$ 839, 67 mil para a Allen & Clark. Os documentos mostram que a última remessa ocorreu em 5 de dezembro, no montante de US$ 282,7 mil.

IDENTIFICAÇÃO

Maluf nega ter comprado bens no exterior. Seus advogados se recusam a falar sobre os documentos do Safra National Bank sob alegação de que não podem violar o sigilo imposto pela Justiça Federal nos autos da ação contra o ex-prefeito. Eles consideram, no entanto, que a transação imobiliária com a Allen & Clark pode ser facilmente verificada pelas autoridades brasileiras para identificação do verdadeiro beneficiário.

Quando foi interrogado na 2.ª Vara Criminal Federal, em São Paulo, Birigüi enfatizou: ¿A conta é minha, mas o dinheiro era do Maluf.¿

A análise dos papéis que os promotores americanos disponibilizaram indica que pelo menos US$ 27 milhões foram aportados na Chanani por meio da Durant International, offshore da qual o ex-prefeito seria o único beneficiário.

CASSINOS

O rastreamento também aponta que Birigüi usou parte dos recursos ¿ ele teria sacado dinheiro da Chanani para compras e despesas com restaurantes e hotéis de luxo na França, Inglaterra e Itália. Esse detalhe reforça a suspeita de que o doleiro pode ter comprado o imóvel nos EUA ¿ para uso próprio ou para uma terceira pessoa, não identificada. Birigüi não retorna ligações para falar sobre o caso.

A Chanani abrigou valores de cerca de 40 brasileiros, inclusive banqueiros e empresários. A papelada mostra diversas transferências para crédito no Banco de Montevideo, agência Punta del Leste, realizadas por ordem de um executivo que seria cliente assíduo de cassinos do paraíso fiscal.

Em 1998, ano em que a Chanani registrou o maior fluxo de entrada e saída, o executivo autorizou 4 remessas que somaram US$ 940 mil para o banco uruguaio. Outras 8 transferências foram feitas por ele. Ao todo, o executivo movimentou US$ 3,23 milhões da Chanani.